NOTÍCIA | A MAIORIA DOS PROFESSORES JOVENS CONSIDERA PEDIR DEMISSÃO DEVIDO A SALÁRIOS BAIXOS
Pesquisa revela urgência na melhoria da remuneração e proteção de direitos dos professores
Quase nove em cada dez professores na faixa dos 20 e 30 anos estão considerando deixar a profissão e buscar outro emprego devido a salários inadequados, revelou uma pesquisa realizada no final de agosto na Coreia do Sul. “É difícil economizar dinheiro apenas com meu salário mensal, então tentei me especializar na área de finanças, pensando que não conseguiria me preparar para a aposentadoria com este emprego”, disse Lee, professora de ensino fundamental de 31 anos, em Seul.
Sua experiência reflete a crescente insatisfação e evasão de jovens educadores, evidenciando a necessidade urgente de uma melhor remuneração e de ações mais eficazes para proteger os direitos dos professores, como forma de atrair e reter os melhores talentos na área. De acordo com uma pesquisa divulgada recentemente pela Federação Coreana de Associações de Professores, 86% dos professores na faixa dos 20 e 30 anos consideram pedir demissão e mudar de carreira devido aos baixos salários.
A pesquisa, que contou com a participação de 4.603 professores e professoras do jardim de infância ao ensino médio, também revelou que apenas 0,7% estão satisfeitos com seus salários. Em contraste, 93% expressaram insatisfação, com 65% afirmando que estavam extremamente insatisfeitos. Um professor de ensino médio de 39 anos, da província de Gyeonggi, identificado apenas pelo sobrenome Oh, lembrou-se de um colega mais jovem que frequentemente expressa frustração e fala sobre deixar a profissão para estudar Medicina Oriental na Universidade Kyung Hee.
“Embora algumas queixas de alunos e pais possam ser difíceis de resolver, há uma sensação predominante de que os professores são deixados sozinhos para lidar com esses desafios”, disse Oh. Ele acrescentou que isso torna o trabalho menos atraente para os profissionais recém-chegados, especialmente quando se consideram as condições de trabalho e a remuneração.
Gwak Tae-un, professor de ensino médio de 27 anos, em Hanam, província de Gyeonggi, expressou preocupação com a remuneração inadequada em relação às demandas da profissão, apontando que o subsídio é insuficiente diante da intensidade do trabalho. “Geralmente somos designados para tarefas que outros evitam, como as obrigações da sala de aula e o enfrentamento da violência escolar, deixando-nos expostos a condições desafiadoras sem compensação adequada”, afirmou.
O salário-base para professores iniciantes na Coreia varia entre 2,19 milhões de won (R$ 8.921,89) e 2,25 milhões de won (R$ 9.166,33). Embora existam subsídios adicionais, há também várias deduções que, ao final, resultam em uma renda líquida de cerca de 2 milhões de won (R$ 8.147,85), mesmo após anos de serviço. A renda média líquida para novos professores é de 2,31 milhões de won (R$ 9.410,76), inferior ao custo de vida mensal de 2,46 milhões de won (R$ 10.021,85) para uma família, conforme dados da Comissão de Salário Mínimo do Ministério do Trabalho de 2023.
A Federação Coreana de Associação de Professores realizou uma coletiva de imprensa solicitando
melhorias no tratamento de professores em frente ao Complexo Governamental Sejong.
Fonte: The Korea Herald
Refletindo essa crescente insatisfação, o número de jovens professores deixando a profissão tem aumentado. Segundo o Ministério da Educação, o número de professores do ensino fundamental e médio, com menos de 10 anos de experiência, que pediram demissão, subiu de 448 em 2020 para 576 em 2023.
Questionados sobre possíveis soluções, 53,9% dos entrevistados apontaram melhores condições de trabalho como fundamentais. Além disso, 37,5% enfatizaram a necessidade de medidas mais eficazes para proteger os direitos dos educadores. Especialistas alertam que, em uma sociedade capitalista, a importância dos salários e das condições de trabalho não pode ser ignorada, ressaltando a necessidade de melhorar o tratamento dado aos professores.
Park Nam-gi, professor da Universidade Nacional de Educação de Gwangju, destacou que os salários dos professores não aumentaram significativamente em comparação com outras profissões. “A remuneração dos professores jovens precisa ser ampliada, pois a Lei de Status dos Professores incentiva um tratamento especial para os educadores”, disse ele. Essa legislação determina que os governos estaduais e locais ofereçam uma remuneração favorável aos professores, mas Park argumenta que isso não está sendo cumprido adequadamente.
Park Joo-ho, professor do Departamento de Educação da Universidade de Hanyang, reconheceu que, embora os salários dos professores possam não aumentar rapidamente devido ao seu status de funcionários públicos, outras melhorias são necessárias. “Ampliar as oportunidades de formação e apoiar os professores na obtenção de diplomas avançados pode ajudar a desenvolver educadores talentosos”, disse ele, acrescentando que o aumento dos subsídios também é fundamental para lidar com a insatisfação.
Em uma sociedade onde a educação é vista como um dos pilares cruciais do desenvolvimento, é preocupante e lamentavelmente irônico a evidência de uma desvalorização desses profissionais, que enfrentam não apenas salários inadequados, mas também condições de trabalho insatisfatórias. A ideia de que quase 90% dos educadores na faixa dos 20 e 30 anos estão pensando em abandonar a profissão aponta para uma crise sistêmica.
Outro ponto relevante é o impacto que essa insatisfação generalizada tem sobre o recrutamento de novos talentos para a educação. A desvalorização dos professores não só impede a retenção de profissionais qualificados, mas também desestimula jovens a seguir essa carreira. A longo prazo, isso pode criar um efeito dominó: a falta de educadores experientes e motivados compromete a qualidade do ensino, prejudicando diretamente a formação dos estudantes e, em última instância, o desenvolvimento da própria sociedade.
Por fim, é importante ressaltar que essa situação educacional na Coreia do Sul não pode ser vista de maneira isolada; ela faz parte de uma tendência global, onde muitos países enfrentam dificuldades semelhantes em relação à remuneração e ao respeito pelos direitos dos professores. Nesse contexto, a Coreia poderia servir de exemplo positivo se tomar as medidas necessárias para enfrentar esses desafios, priorizando a educação como uma questão de interesse nacional e investindo nos profissionais que são a base desse sistema. Valorizar os professores é investir diretamente no futuro do país.
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Notas
¹ Os valores apresentados na moeda real estão de acordo com a taxa de câmbio de 7 de outubro de 2024.
REFERÊNCIAS
DA-HYUN, J. Majority of young teachers consider quitting due to low pay. The Korea Times. Seul, 05 set. 2024. Society. Disponível em: https://www.koreatimes.co.kr/www/nation/2024/09/281_381868.html?utm_source=taboola.
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