NOTÍCIA | República da Coreia promove desfile militar em Seul

NOTÍCIA | República da Coreia promove desfile militar em Seul

Redação e comentário crítico: Eloáh Ferreira Miguel Gomes da Costa

Imagem: Anthony Wallace / AFP

No dia 26 de setembro, a República da Coreia promoveu seu maior desfile militar da história e o primeiro de relevância em dez anos, em Seul, exibindo, dentre outros, mísseis de cruzeiro, drones e tanques, bem como 300 soldados estadunidenses. O show de aeronaves que seria realizado foi cancelado devido às chuvas, porém, cerca de dois quilômetros perto da praça Gwanghwamun foi utilizado. Mas o que isso significa?

O desfile foi parte das festividades do 75° aniversário das Forças Armadas sulcoreanas e do 70° aniversário da aliança com os Estados Unidos da América (EUA) e, principalmente, uma demonstração de força diante da crescente tensão na península coreana. O presidente Yoon Suk-yeol, em cerimônia comemorativa antes do desfile em uma base aérea ao sul de Seul, alertou a República Popular Democrática da Coreia (RPDC) quanto ao desenvolvimento e à utilização de armas nucleares, avisando que tal ato levaria a uma retaliação imediata e que o regime nortecoreano seria levado ao fim por uma resposta da aliança militar entre República da Coreia e EUA.

Também, o presidente Yoon afirmou que qualquer ajuda da Rússia à RPDC em relação ao programa nuclear desta seria visto como uma provocação direta, visto que, uma semana antes do evento, o líder da RPDC visitou o presidente russo, Vladimir Putin, com o objetivo de fortalecer a cooperação militar entre os dois países.

Desfiles militares eram regulares após o golpe militar em 1979 como uma mensagem anticomunista, mas após a redemocratização do país, tornaram-se um símbolo negativo do regime ditatorial. Contudo, o presidente Yoon retomou tal ato a fim de sinalizar a potência de uma retaliação sul-coreana, alinhado a exercícios conjuntos com os EUA e o tema de segurança como destaque de seu discurso. Tais afirmações e ações demonstram a postura mais agressiva da administração atual, comparada às anteriores, em relação ao regime norte-coreano, não só com declarações, mas também sobre o próprio poder militar da República da Coreia: o gabinete presidencial detalhou algumas das armas militares exibidas em um comunicado à imprensa.

Além disso, o evento destacou o crescente papel da República da Coreia como exportador de armas, fator de crescimento econômico alinhado à garantia de sua própria segurança com o avanço tecnológico e científico promovido e ao apoio aos EUA. O mercado estadunidense é visto como uma oportunidade para as empresas fabricantes de armamento militar sul-coreanas, como a Hanwha Aerospace e Poongsan, em razão da longa aliança com os EUA e as guerras em curso entre Rússia e Ucrânia e Israel e Hamas, o que certamente impulsiona o crescimento da indústria por aumento da demanda e exige posicionamentos dos EUA que precisam ter uma base de efetivação, ainda que não venha a ser utilizada diretamente. Um outro fator é a proibição, por lei, do fornecimento de armas pelas empresas de defesa sul coreanas a países envolvidos em conflitos.

O suporte dos EUA à atual República da Coreia desde 1950, quando da ofensiva do norte, com apoio da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e China, em meio a uma disputa política na região unificada à época, desdobrou-se em um conflito contido, mas em andamento, na península e fez do regime sul-coreano um aliado estratégico dos EUA na região, como demonstra a participação de 300 soldados estadunidenses no desfile, dos 28.500 estacionados no país. Um eventual encerramento deste conflito representa a possibilidade de retirada ou redução das tropas estadunidenses na República da Coreia, diminuindo o poder dos EUA na região quando há guerras em andamento e conflitos em potencial, como China e Taiwan, de modo que o aprimoramento militar da República da Coreia está diretamente associado ao seu papel como suporte dos EUA, o que, sem o acesso territorial, não representa vantagem suficiente para os EUA.


REFERÊNCIAS

BOROWIEC, Steven. South Korea shows off military hardware in display of might. Nikkei Asia, 26 set. 2023. Defense. Disponível em: https://asia.nikkei.com/Politics/Defense/South-Korea-shows-off-military-hardware-indisplay-of-might. Acesso em: 14 out. 2023.

COREIA do Sul realiza maior desfile militar em uma década. DW, 26 set. 2023. Conflitos. Coreia do Sul. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/coreia-do-sulrealiza-maior-desfile-militar-em-uma-d%C3%A9cada/a-66932054. Acesso em: 14 out. 2023.

MORIYASU, Ken. South Korean arms makers seek to crack U.S. market amid Gaza war. Nikkei Asia, 11 out. 2023. Defense. Disponível em: https://asia.nikkei.com/Politics/Defense/South-Korean-arms-makers-seek-to-crackU.S.-market-amid-Gaza-war. Acesso em: 14 out. 2023.

RYALL, Julian. What’s next for the South Korea-US defense pact?. DW, 27 set. 2023, Conflitos. Coreia do Sul. Disponível em: https://www.dw.com/en/whats-nextfor-the-south-korea-us-defense-pact/a-66935491. Acesso em: 12 out. 2023.

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