Em seus 43 minutos de duração, o documentário “A rádio que Paulo Freire sonhou” mostra o quanto a história da emissora é indissociável, de um lado, do importante projeto de educação popular, idealizado por Paulo Freire e, de outro, da efervescência cultural e intelectual do Recife no final dos anos 50 e início dos anos 60. Isso porque em torno de si e do SEC, Paulo Freire conseguiu agregar uma geração de jovens intelectuais progressistas, que se destacariam depois como literatos, designers, críticos e professores, entre eles, João Alexandre Barbosa, Sebastião Uchoa Leite, Jomard Muniz de Britto, Luiz Costa Lima e Marcius Cortez. Merece destaque o primeiro diretor da Rádio Universidade, José Laurenio de Melo, que foi um dos fundadores do notório Teatro de Estudantes de Pernambuco, ao lado de Hermilo Borba Filho, e do famoso O Gráfico Amador, junto com Aloísio Magalhães.
O documentário mostra, entre outras coisas, como a emissora foi alvo da “histeria anticomunista” nos anos 60, detalhando, a partir de depoimentos e documentos, a perseguição sofrida por Paulo Freire e seus colaboradores por setores políticos, segmentos sociais e intelectuais conservadores, como o sociólogo Gilberto Freyre. Detentor de grande prestígio na época, Freyre chegou a publicar artigos nos jornais da época que reforçavam a “campanha” da coluna Informe Econômico, do Diario de Pernambuco, contra os “comunistas” do SEC e da Rádio Universidade.
Baseado também em uma extensa pesquisa documental, depoimentos de pesquisadores e de ex-colaboradores da emissora, inclusive alguns da época de sua fundação, o documentário mostra o importante papel que a emissora desempenhou nos debates públicos em torno da realidade brasileira naquele momento decisivo da história política brasileira. Considerada como “subversiva”, a Rádio chegou a ser invadida pelos militares quando veio o Golpe de 64, passando depois a ter sua programação reorientada pelos interesses do governo ditatorial que se instalou no Brasil.
O documentário foi exibido pela primeira vez na TV Universitária em 29 de setembro deste ano, mesmo dia em que a emissora havia entrado no ar, sendo depois apresentando na Mostra de Filmes Memória em Movimento que integrou a programação da 13ª Semana Fluminense do Patrimônio – SFP, entre 11 e 14 de dezembro de 2023, na Sala 2 do Estação Net Rio, na cidade do Rio de Janeiro. “A rádio que Paulo Freire sonhou” foi produzido pelas equipes do Laboratório de Imagem e Som (LIS) e da Rádio Paulo Freire. O documentário traz depoimentos de ex-colaboradores do SEC e da Rádio Universidade, como Luiz Costa Lima, Marcius Cortez, Hugo Martins, Maria de Jesus Baccarelli e Paulo Figueiredo. Participam ainda, entre outros, os professores e pesquisadores Dimas Veras, Eliete Santiago, José Batista Neto e Flávio Weinstein. A produção também teve o apoio da TVU, do Memorial Denis Bernardes, da Biblioteca Central e da Cátedra Paulo Freire.