“CadernosFuturo” é uma um periódico do Instituto Futuro (IF) em parceria com o programa de Pós-graduação e Filosofia (PPGF) e com o Programa de pós-graduação em Desenvolvimento Urbano (MDU) e com a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi criado para abrigar temas transversais aos diversos conhecimentos, que promovam o diálogo entre as Ciências e as Humanidades, abrangendo todas as áreas do conhecimento humano.
Para além de comunicar reflexões dos pesquisadores interessados, conterá sempre, um “Dossiê”, resultante de palestras, conferências, entrevistas, que acontecem nas atividades denominadas “Prospecta Mundo”; “Prospecta Brasil” e “Prospecta UFPE”, promovidas pelo Instituto; e uma seção denominada Exposições Virtuais. Trata-se de um espaço que a UFPE oferece à Sociedade, publicando temas que estejam sempre na fronteira do Conhecimento. Daí que os acontecimentos do IF têm se pautado em refletir sobre “o Futuro da Técnica e do Planeta.
Neste numero inaugural encontram-se:
- O primeiro “Dossiê”, cujos artigos respondem à questão formulada sobre o “Futuro do Entendimento de Fronteira e da relação entre os povos”. Mesmo sendo fruto de um debate que aconteceu em 2016, ele se mantém extremamente atual. As fronteiras, no nosso Mundo, sejam elas físicas ou subjetivas, continuam sendo praticadas por variados motivos e poucas vezes a solidariedade, o respeito e a compaixão são o que motiva as nações, quando fecham suas portas. O entendimento de que somos parte de uma mesma e única natureza continua distante dos compromissos humanos. Mesmo agora, em 2020, quando vivenciamos as atrocidades de uma doença planetária que atingiu todos os continentes – o covid19;
- A primeira Exposição Virtual. Fruto de uma iniciativa da Pró-Reitoria de Extensao e Cultura, apresenta uma parte do acervo do Projeto “QuarentenArte”, com obras históricas do acervo da UFPE.
Os próximos números terão três partes: 1. Dossiê; 2. Artigos e Resenhas; 3. Exposições Virtuais.
O FUTURO DA TECNICA E DO PLANETA
A Teoria do Conhecimento, em seus estudos evolutivos nos mostra que o ser humano avançou em suas capacidades aprendendo a lidar com o mundo, com os seus semelhantes, com os demais seres do planeta, sempre em um movimento de sobrevivência, a partir da vivência, da experiência. Par a par, sua constituição fisiológica teria se modificado, ajustando-se com o aprendizado da vida, em novos modos de se alimentar; na confecção de instrumentos que lhe trouxessem mais conforto e agilidade. A técnica era uma extensão do corpo humano.
Hoje, o domínio do ser humano é surpreendente, o conhecimento tendo atingido graus inimagináveis. Quem pensaria que chegaria o dia em que, vivo, pleno de suas capacidades, o ser humano veria o interior do seu cérebro em funcionamento e começaria um longo caminho em direção à descoberta de como acontecem nossos sentimentos, nossa cognição? Ou que avançaríamos em direção ao desvendar do Universo? Que criaríamos máquinas que facilitariam os diagnósticos de doenças graves? Por outro lado, pelo uso abusivo das potencialidades ambientais, por deixar de lado a preocupação com a Ética, quem pensaria que chegaríamos aos níveis de periculosidade em relação a vida do Planeta e consequentemente do próprio ser humano? Na discussão sobre o futuro, mais urgente, agora, não são mais as máquinas maravilhosas que aprendemos a criar, que ainda podemos criar, mas como preservar a vida e como reaver a consciência ética entre nós, seres humanos.
O pensador italiano Umberto Galimberti, a esse respeito, nos diz que, no Curso da Evolução, os seres humanos perderam o instinto animal e para se adaptarem ao ambiente tiveram que criar a Técnica. Mas, que ficamos tão dependentes dela que nos tornamos funcionários dessa mesma técnica. Ele alerta que o papel da Técnica é funcionar e não tomar decisões pelos seres humanos:
A técnica, de fato, não tende a um objetivo, não promove um sentido, não abre cenários de salvação, não redime, não desvenda a verdade: a técnica funciona (Galimberti, 2006: p. 8).
No Brasil, o professor Laymert Garcia nos lembra que, a partir dos Anos 90, as inovações tecnológicas deixaram o espaço restrito dos laboratórios para fazer parte do cotidiano das pessoas, não só no meio urbano, mas nos recantos mais distantes do Planeta. Isso, se por um lado, encurtou distâncias, facilitou a comunicação entre os povos, por outro, segundo o professor, a “Tecnosfera”, ou, a segunda natureza, teria rompido uma concepção utilitária que permeava o entendimento humano e com isso, ao mesmo tempo em que descobríamos o poder da maquina, também teríamos ficado à mercê de seus riscos (SANTOS, 2011).
Então, com esse cenário, o futuro e os conhecimentos de fronteira passam por uma necessária revisão de conceitos apenas aparentemente superados, como os de Indivíduo, Identidade, Liberdade, Salvação, Verdade, mas também por aqueles que deveriam ser perenes, como Natureza, Ética, Política, Historia. É esse o enfoque que tem sido motivador das discussões acontecidas nos denominados “Prospecta” e que seguem transcritas, doravante, nos CadernosFuturo.
Desejamos boa leitura!
Professora Maria de Jesus de Britto Leite
Coordenadora do Instituto Futuro UFPE
GALIMBERTI, Umberto. Psiche e Techne. O Homem na Idade da Técnica. São Paulo: Paulus, 2006.
SANTOS, Laumert Garcia dos. Politizar as novas tecnologias. São Paulo: Editora 34, 2011.
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