Coleção Brasil-África
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Literatura, pensamento social e movimento de mulheres: um mosaico moçambicano
A temática plural deste livro está relacionada à tentativa de melhor compreender a formação da sociedade moçambicana contemporânea. Trata-se de um momento de reflexão resultante de pesquisas desenvolvidas pelos organizadores sobre os distintos campos problematizados nas entrevistas realizadas com um autor, e três autoras e atoras que refletiram sobre o processo de formação da literatura moçambicana, o desenvolvimento das ciências sociais e a emergência do movimento de mulheres em Moçambique no pós- independência.
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África & Brasil no século XXI
Constituída por 3 Coleções (Pesquisas, Ensaios e Clássicos), a Série Brasil & África expressou, quando da sua criação no ano de 2014, duas ordens de fatos fundamentais: por um lado, a virada geopolítica ocorrida no Brasil no início do século XXI, que apontava para a mudança na ordem de prioridades no campo das relações internacionais, com a passagem de ênfase do diálogo “Norte-Sul” para o diálogo “Sul-Sul”1; por outro lado, a tomada de consciência da necessidade de construção de laços mais estreitos no campo acadêmico-intelectual entre os saberes que são construídos no Brasil e no continente africano – especialmente, mas não de maneira exclusiva, nos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOPs).
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Uma capacidade reflexiva singular que se nutre de um olhar construído no Sul do Mundo. O olhar de um inglês de nascimento que, ainda jovem, optou por transmutar- se em “cidadão africano”. Mais precisamente, para que sejamos coerentes com a forma de pensar de Colin Darch, um inglês de nascimento que realizou uma opção de vida, a saber, a de se tornar um “cidadão das Áfricas”, das diversas Áfricas existentes, que rejeita a ideia reducionista predominante, no senso comum, mas também dentro do ambiente acadêmico-universitário, da existência de uma só África e de seus habitantes indiferenciados: os africanos.
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Sendo mais especifico, a pergunta que deveria nortear o entendimento da história da África poderia ser expressada da seguinte maneira: o que há de comum entre movimentos de emancipação (como, por exemplo, o fim da escravidão em Haiti) e movimentos parecidos (procurando acabar, armas nas mãos, com o fim da colonização)? Uma história da humanidade pensada e repensada desta forma ajudaria colocar valores como justiça, solidariedade, igualdade no centro das pesquisas. Ao mesmo tempo, ajudaria a criação (ou a recriação) de conhecimentos não marcados pela hierarquização imposta pelos sistemas dominantes de hoje e do passado mais recente, quaisquer que sejam as disciplinas.
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Entre os senhores das ilhas e as descontentes: identidade, classe e gênero na estruturação do campo político em Cabo Verde
Falar de pós-colonialismo em Cabo Verde, especialmente através de uma análise da participação das mulheres na estrutura do poder, exige alguma inovação teórica. A primeira dificuldade prende-se com o campo empírico. Trata-se de uma sociedade problemática quanto à questão colonial e pós-colonial. Sendo assim, para uma análise sociopolítica do espaço caboverdiano, torna-se importante uma contextualização deste arquipélago-problema, procurando apreender a historicidade e a mitografia fundacional da caboverdianidade, mas também desvelar esta ideologia dominante que conforma o próprio campo político como uma espécie de ilha-metrópole, cuja “dinâmica política e sociocultural se torna cada vez mais dependente e tributária dos valores da civilização ocidental” (Silveira, 2005: 9).
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Hiv Aids e as teias do capitalismo, patriarcado e racismo: África do Sul, Brasil e Moçambique
O propósito é aprofundar o conhecimento e refletir sobre as experiências político-sociais e culturais no âmbito do direito à saúde, particularmente sobre a epidemia do HIV e Aids, por ser uma epidemia que expõe e agudiza as relações de poder e as dinâmicas da acumulação capitalista. Os artigos apresentam de forma diversa a grande complexidade dos sentidos da epidemia no atual contexto de disputa por respostas do Estado na área da saúde em cada país; consideram-se as diferentes realidades e procura-se compreender os limites das relações de gênero, raça, classe e orientação sexual no contexto da epidemia do HIV.
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Independentemente do crescente interesse relativamente recente pela mortalidade materna e pela mortalidade por SIDA e tuberculose, a mortalidade adulta em geral tem sido negligenciada nos países em desenvolvimento. A mortalidade entre as mulheres em idade fértil (MIF), e não apenas a mortalidade materna (MM), pode ser um bom indicador do bem-estar da sociedade (OMS, 2009). Na maioria dos países em desenvolvimento as mulheres em idade fértil são membros essenciaisda sociedade, tanto em termos da sua contribuição para a força de trabalho como para a economia informal (Albuquerque, 1998), mas também devido ao seu papel social como pilar da estrutura familiar e na educação e no cuidado das crianças.compreender os limites das relações de gênero, raça, classe e orientação sexual no contexto da epidemia do HIV.
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O Mineiro Moçambicano representa, de fato, um estudo original e pioneiro no campo dos estudos da economia política de Moçambique. Originalidade e pioneirismo estreitamente vinculados ao caráter coletivo do trabalho de investigação que resultou na elaboração do livro coordenado por Ruth First, levado a cabo por cientistas sociais moçambicanos e de outras nacionalidades reunidos em torno do Centro dirigido por Aquino de Bragança.
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Este trabalho aborda a problemática das organizações de mulheres em Moçambique, no contexto dos novos movimentos sociais, surgidos do processo de globalização do sistema-mundo capitalista, nas últimas três décadas, e questiona até que ponto a sua perspectiva e práticas sociais ajudam a superar a exclusão das mulheres, e contribuem para a construção dum mundo mais solidário entre mulheres e homens e de respeito pelos outros.
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A escolha por inaugurar a Coleção Clássicos da Série Brasil & África com uma coletânea de escritos de Aquino de Bragança, produzidos entre os anos de 1980 e 1986, possui uma forte carga de simbolismo político. Nascido em 6 de abril de 1924, em Goa, quando essa ainda era uma colônia portuguesa na Índia, Tomaz Aquino Messias de Bragança foi uma das principais lideranças políticas e intelectuais da luta anticolonialista travada no continente africano, em particular nas colônias que formavam o Império português na África.