Guerra Civil na Líbia (2011)

13 de junho de 2022

 Escrito por: Amanda Ferraz

Revisado por: Renata Moraes

    Em 2011, durante a Primavera Árabe, a Líbia vivenciou o início de uma guerra civil travada entre as forças de Muammar Gaddafi e grupos contra o governo ditatorial no poder há mais de 40 anos e o dia 17 de fevereiro foi marcado como o “O Dia da Revolta” devido às grandes manifestações em diversas cidades do país; Gaddafi, todavia, respondeu com forte repressão e gerando grande número de mortes.

    Os manifestantes contrários ao regime almejavam a renúncia de Gaddafi e a libertação dos presos políticos, mas, conforme se intensificaram os protestos pelo país, o governo líbio se mostrou ainda mais brutal: além de atacar com tropas, também usou em sua repressão  tanques, aviões de guerra e munições letais. O regime de Gaddafi também restringiu e bloqueou o serviço de telecomunicações em todo território líbio. 

    Tal repressão contra manifestantes civis gerou tanto a desaprovação internacional quanto de lideranças e membros do regime em vigor, já que esses ataques  violentos não eram aprovados em totalidade (o que afetou a coerência do regime). Do outro lado encontrava-se Gaddafi em resistência para permanecer no poder e condenando ferozmente os manifestantes, considerando-os traidores. Os confrontos não se encerraram rapidamente e o ditador teve sua influência e poder enfraquecidos, pois as unidades militares da Líbia se uniram à oposição: o movimento anti-Gaddafi tomou forma de rebelião armada. Diante disso, as forças rebeldes passaram a expulsar as tropas pró-Gaddafi de diversas regiões. 

    Os líderes internacionais posicionaram-se contra o governo intensamente e pressionaram Gaddafi buscando sua renúncia. O Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) aprovou medida contra o ditador, proibindo viagens e congelando bens da família. A mesma, em seguida, foi encaminhada para o Tribunal Penal Internacional (TPI). Ademais, os Estados Unidos da América, a União Europeia e outros países também se mostraram contrários a Gaddafi e impuseram sanções ao seu governo. 

    Apesar do leste da Líbia e cidades no Oeste terem sido conquistadas pelos rebeldes, o regime ainda tinha forte influência em Trípoli, nas cidades ao redor e na região costeira central do país. Conforme Gaddafi aparentava estar em vantagem, a comunidade internacional buscava respostas diplomáticas. No dia 10 de março de 2011, a França reconheceu o movimento rebelde, CNC, como governo legítimo da Líbia e sinalizou  um cenário ainda mais turbulento. No dia 11 de março, a União Europeia, por unanimidade, pediu a renúncia de Gaddafi; porém, a comunidade internacional ainda não havia entrado em consenso em um ponto: a União Africana (UA) mostrou-se contrária a qualquer intervenção militar – defendida por alguns – enfatizando que a crise seria solucionada através de negociações. Em 13 de março, a Liga Árabe convocou o CSNU, e impôs uma zona de exclusão aérea sobre o país. 

    Após o ataque promovido pelos partidários de Gaddafi à última grande cidade controlada pelos rebeldes, Ajdābiyā, o CSNU votou para autorizar a ação militar, incluindo a estipulação de uma zona de exclusão aérea para proteger os civis líbios. O regime de Gaddafi respondeu com um cessar-fogo, mas as forças pró-ditador continuaram a lançar ataques e combatendo fortemente em Benghazi. 

    A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), no final de março daquele ano, assumiu o comando das operações, que estavam sendo dirigidas pelos Estados Unidos, França e Reino Unido. A mudança ocorreu por conta das denúncias de diversos países sobre as forças terrestres pró-Gaddafi: elas teriam excedido o mandato estabelecido pelo CSNU na proteção de civis. Entretanto, apesar dos ataques da OTAN a elas (inferiores em aspectos militares e operacionais), a Organização aparentava ser incapaz de expulsar Gaddafi e suas tropas. 

    Não obstante, a OTAN permaneceu atacando e atingindo locais associados ao ditador e seu círculo íntimo – o que atraiu protestos de autoridades da Líbia, os quais culpavam a Organização de projetar estratégias para matar Gaddafi. Em junho, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu mandados de prisão para Gaddafi, seu filho e o chefe de inteligência da Líbia, por ordenar os ataques contra civis durante as manifestações. Ainda assim, apesar da pressão da OTAN, da comunidade internacional, dos avanços dos rebeldes, Gaddafi permaneceu no poder em Trípoli. 

    Em agosto, os rebeldes avançaram para Trípoli e assumiram um controle de áreas estratégicas, erguendo a bandeira utilizada antes de Gaddafi assumir o poder, enquanto multidões destruíam símbolos que remetiam ao líder. No mês seguinte, em setembro, as forças rebeldes permaneceram solidificando o controle na capital da Líbia: nessa ocasião, Gaddafi estava cada vez mais pressionado a deixar o poder, permaneceu escondido e isolado. No dia 15 de setembro, a Assembleia Geral da ONU votou para reconhecimento do CNC como representante do povo líbio. No final de outubro de 2011, Muammar Gaddafi foi descoberto e morto por combatentes rebeldes em Sirte. 

    Nos meses seguintes, o CNC lutou para estabelecer um governo fixo e exercer autoridade após queda do regime de Gaddafi, mas as milícias locais e autônomas não quiseram se submeter a um governo que fora fundado no leste da Líbia e sem participação completa do país. Portanto, as milícias recusaram-se a se desarmar. 

    Após tantos conflitos, a Líbia ainda não se recuperou: hoje é considerada um estado falido por certos analistas devido às suas fragilidades políticas e econômicas. Tal situação é delicada e demanda atenção aos seus habitantes, gerando preocupação para o continente africano e para a comunidade internacional.

Referências 

https://www.britannica.com/event/Libya-Revolt-of-2011

https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2011/03/10/conflitos-na-libia-sao-face-mais-dura-da-crise-politica-do-norte-da-africa-e-do-oriente-medio

https://www.aljazeera.com/news/2017/4/30/battle-for-libya-key-moments-3

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