Observatório das Ações Afirmativas e Promoção de Igualdade Étnico-Racial de Pernambuco
O projeto é constituído pelo que denominamos de eixos, que correspondem às frentes de pesquisas específicas desenvolvidas e abaixo relacionadas:
Durante décadas os movimentos sociais negros buscaram debater com a sociedade sobre a necessidade de investimento educacional para a população preta e parda no país, uma vez que o formato de seleção das universidades privilegiava as classes mais altas da sociedade que tinham condições de participar do processo seletivo e adentrarem nos cursos que eram ofertados. Nesse sentido, a quantidade de estudantes pretos e pardos que ingressavam nas instituições de ensino superior não condizia com o contingente populacional estabelecido no censo do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE).
A compreensão dos movimentos negros era de que a falta de oportunidades da população preta e parda poderia ser reduzida se houvesse investimentos na educação, cultura, saúde e outros mecanismos de inclusão social que enfrentasse o preconceito e a discriminação étnico-racial.
Para tentar corrigir tais disporaridades, a União, os Estados e os Municípios passaram a criar políticas de ações afirmativas em diversas áreas sociais, a fim de promover o direito das pessoas negras de participarem dos processos decisórios na criação de políticas públicas e consequentemente diminuir o preconceito étnico-racial que persiste em nossa sociedade.
Dentre essas iniciativas, foi aprovada a Lei 12.711, de 29 de agosto de 2012, que dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio. Esta legislação alterou o acesso das instituições de federais de ensino, a partir da reserva de vagas de 50% (cinquenta por cento) para estudantes oriundos de escolas públicas com renda igual ou inferior a 1,5 salário mínimo per capta, transformando dessa forma a população que frequentava as Universidades e os Institutos Federais.
No que tange à pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), o MEC aprovou a Portaria Nº 13, de 11 de maio de 2016, ao qual dispõe sobre a indução de Ações Afirmativas na Pós-Graduação. A Portaria ainda destaca que deverá ser criada comissões próprias com a finalidade de dar continuidade ao processo de aprimoramento das ações afirmativas e que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) deverá coordenar a elaboração periódica do censo discente na pós-graduação.
A partir desta normativa, a UFPE aprovou a Resolução Nº 17, de 25 de maio de 2021, que instituiu a política de ações afirmativas na pós-graduação stricto sensu da UFPE. De acordo com esta Resolução, todos os Programas de Pós-Graduação deverão estabelecer no edital de processo seletivo, no mínimo, 30% (trinta por cento) das vagas para as Ações Afirmativas, sendo uma delas obrigatoriamente para pessoas com deficiência.
Assim, no presente eixo, a discussão ocorre com o intuito de analisar os documentos que compreendem as políticas de ações afirmativas para o ingresso, permanência e sucesso em nível de graduação e pós-graduação na Universidade, abrangendo qual a realidade dessas categorias e processos no cenário da UFPE, bem como, quais caminhos são possíveis para aprimorar tais políticas no âmbito da Instituição.
Neste eixo serão apresentados dados sistematizados sobre as políticas de ações afirmativas desenvolvidas no âmbito da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com foco nos docentes, técnicos/as e funcionários/as terceirizados/as; nesta seção também serão tecidas análises sobre os impactos e possíveis resultados advindos da implementação da lei nº 12.990/2014 no quadro de funcionários desta instituição de ensino superior.
Esse conjunto de iniciativas institucionais emergem com a intencionalidade de equiparar as desigualdades raciais evidenciadas na dificuldade de acesso da população negra (preta e parda) ao funcionalismo público, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2020), 65,1% dos cargos de ensino superior no serviço público federal são ocupados por pessoas brancas, ao passo que 27,3% são ocupados por pessoas negras. Essas constatações revelam uma perversa face do fenômeno racista que acomete a população negra no Brasil.
Na contramão desse cenário, a UFPE tem implementado um conjunto de iniciativas institucionais para inviabilizar as capilarizações do racismo e, entre elas, figura o Observatório de Ações Afirmativas e Promoção da Igualdade Étnico-Racial. A partir deste equipamento será possível ter uma visão panorâmica das ações afirmativas desenvolvidas no âmbito da UFPE.
Nesse sentido, ainda nesta seção você encontrará a partir de números e reflexões tecidas sobre ações afirmativas, como se desenha a realidade étnico-racial do público interno desta IES, por exemplo: tipificações de cotas implementadas pela IES que deem condições de acesso, ações formativas para qualificação do serviço prestado, programas/ações/projetos de acolhimento às pessoas ingressantes a partir de vagas de ações afirmativas e demais estratégias adotadas para fortalecimento da sociodiversidade nos espaços institucionais.
Os dados aqui apresentados são cedidos pela Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas e Qualidade de Vida (PROGEPE), Pró-Reitoria de Gestão Administrativa (PROGEST), Diretoria Estratégica de Planejamento, Avaliação e Gestão (DEPLAG), para além de outros setores/unidades da Universidade e bases de dados oficiais externas, tais como o INE;, estes são apreciados e sistematizados pela equipe de pesquisadores/as do referido eixo do Projeto, a fim de traduzir a realidade étnico-racial da instituição em números e estudos científicos.
A partir do monitoramento sistemático dos dados e das dinâmicas que se desenrolam no cenário institucional, serão propostas ações de inovação de políticas e processos de ingresso nas carreiras docentes, servidores/as e funcionários/as terceirizados/as nas instituições de ensino superior em Pernambuco; bem como, disponibilizadas informações sistematizadas que apontem possíveis caminhos para a construção de universidades democráticas, equânimes, socialmente justas e inclusivas.
No âmbito do Observatório das Ações Afirmativas e Promoção da Igualdade Étnico-Racial de Pernambuco, o objetivo deste Eixo 3 é o levantamento e a sistematização de dados relativos às Comissões de Heteroidentificação Étnico-racial, constituídas no âmbito da Instituições Federais componentes do Consórcio Universitas, em especial, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Assim, o presente eixo parte de mecanismos e estratégias adotadas para contemplar as políticas de ações afirmativas e de promoção de igualdade étnico-racial, tendo o compromisso de mapear dados institucionalmente produzidos sobre as Comissões de Heteroidentificação. A instrumentalização do projeto, assim, contém impactos que somam diretamente na implementação, supervisão, monitoração, avaliação e publicização dos dados em torno dessas políticas e como estas são refletidas no Ensino Superior Público de Pernambuco em escala interinstitucional e multifacetada.
Desta forma, têm-se como principais objetivos: promover as políticas de ações afirmativas e igualdade étnico-racial nas Instituições de Ensino Superior (IES); Coletar, analisar e publicizar dados e informações acerca das comissões de heteroidentificação e seus possíveis impactos nas políticas de ações afirmativas nas IES que compõem o Consórcio Universitas, com ênfase na UFPE e, por fim; Fornecer subsídios para aprimoramento da atuação das comissões de heteroidentificação nas IES que adotam ou que visam adotar tal procedimento.
A UFPE adota tal mecanismo em 2019 quando, sendo resultado de processos ocorridos ano anterior (2018), diante de uma série de denúncias e mobilizações dos movimentos negros, estudantes ativistas e demais membros da comunidade acadêmica acerca de supostos casos de fraude no preenchimento de vagas de cotas raciais na instituição.
Desde então, a ferramenta utilizada para composição das bancas de Heteroidentificação são os editais de convocação, podendo participar da seleção toda a comunidade acadêmica da UFPE (docentes e técnicos administrativos em atividade ou aposentados, bem como estudantes regularmente matriculados, maiores de 18 anos) com experiência comprovada na temática da promoção da igualdade racial e do enfrentamento ao racismo. Também estão aptos os membros da sociedade civil vinculados a grupo de pesquisa, movimentos sociais negros, coletivos ou outras instâncias congêneres dedicadas às relações étnico-raciais.
Nesse período, O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da UFPE aprovou duas resoluções normativas, a nº 24/2019 e a nº 17/2021, que regulamentam e especificam as atribuições das Comissões de Heteroidentificação para ingresso nos cursos de Graduação e nos programas de Pós-Graduação da instituição, respectivamente.