Apresentação
Gestada no final do século XIX pelo filósofo e matemático alemão Edmund Husserl e nascida enquanto corrente filosófica nos primeiros anos do século XX através da publicação do tratado “Investigações Lógicas” (1901), a fenomenologia encontraria, desde então, tantas interpretações a respeito dos seus temas e tarefas primordiais, que a talvez única filiação imediatamente reconhecível às ideias originais do seu fundador, não residiria propriamente no conteúdo dos seus ensinamentos, mas tão somente na atitude filosófica radicalmente crítica expressa no lema “às coisas elas mesmas!”; exortação que marcaria profundamente todos os seus discípulos e discípulas.
Do ponto de vista disciplinar, parece não haver nada como “Fenomenologia”, porém uma diversidade de fenomenologias, diferentes reflexões unificadas sob uma determinada exigência que Husserl, certamente inspirado por René Descartes, explicitou com clareza e rigor conceitual ímpares: a necessidade de encontrar sempre um novo começo para o pensamento filosófico. Recomeçar desde o princípio, é a exigência interna da filosofia fenomenológica. De fato, a própria história dessa modalidade ou “estilo” de pensamento, como um microcosmo perfeitamente representativo da própria história da filosofia, poderia ser narrada como a história dos seus sucessivos renascimentos.
Partindo da posição segundo a qual, ainda nos dias que correm, não exploramos de maneira suficiente as possibilidades da atitude fenomenológica, bem como as potencialdades guardadas nas diversas fenomenologias particulares historicamente constituídas, foi fundado em 2014 o Núcleo de Pesquisa e Estudos em Fenomenologia (NUPEFE), organização interinstitucional de colaboração entre o Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o Departamento de Filosofia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com o intuito de reunir professoras, professores e estudantes de graduação e pós-graduação, para implementação, coordenação e aprofundamento de pesquisas em torno das filosofias fenomenológicas, assim como das suas possíveis contribuições para o concreto desenvolvimento de temas e disciplinas de caráter tanto filosófico quanto extra-filosófico, criando, desse modo, condições para recuperarmos a vocação “natural” da filosofia para estabelecer relações dialógicas com várias esferas dos saberes teórico-científicos os quais conquistaram, em suas necessárias especializações, relativa autonomia.