Notas sobre o mobiliário do antigo Canal 11.

Tempos atrás, o antigo canal 11 tinha um fluxo interminável de produtores que transportavam fitas para dentro da emissora de televisão.  Pareciam mais como formigas frenéticas, correndo apressadas para todos os lados para veicular vídeos na grade de exibição da TV. Um verdadeiro formigueiro de imagens! Era o formigueiro da TV Universitária. Um lugar em que os videocassetes betacam uvw-1800 protagonizavam essa agitação toda, videoteipes que não paravam de copiar e reproduzir todo tipo de conteúdo. Tudo acontecia por meio de uma tecnologia de exibição padronizada internacionalmente pelo uso de máquinas robustas e caríssimas que eram rigorosamente acomodadas num mobiliário padronizado para atender os aspectos funcionais desses equipamentos. As mídias são guardadas para seus usos em momentos de necessidade com a mesma importância que as folhas, armazenadas em centenas de fitas Master, tem que os jovens da experiemtnais da época gostavam de falar para diferenciar o padrão das camcorders, mas isso foi uma peleja de tempos passados.

Essa era nossa realidade no começo do século XXI. Ninguém poderia imaginar que toda essa euforia seria completamente substituída num futuro tão breve.  Mas isso aconteceu: presenciamos a digitalização completa desse processo que envolvia tanta intervenção humana. A tecnologia deu passos largos e refinou seus métodos. As imagens atualmente chegam por meio de outros agentes, outras formas de composição de acervos. São novas preocupações que se adicionam as preocupações clássicas. Para o profissional que preserva o acervo, a preocupação que antes estava completamente ancorada na memória se amplia para o esquecimento. Esquecimento das práticas outrora adotadas naquele formigueiro e provocadas por máquinas hoje obsoletas. Um esquecimento de saberes e de fazeres repercutidas em máquinas que hoje estão abandonadas e desconectadas de sua dimensão de uso e que também se encontram desconectadas da sua dimensão de objeto de memória. Hoje padecem na ingrata condição de não serem considerados objetos de ciência e tecnologia. Estão em colisão por falta de sistematização, muitas vezes observados e confundidos com equipamentos produzidos em série, apenas como meio para um determinado fim científico maior. É indiscutível que o acervo é parte essencial para construirmos um mosaico da história da televisão pública do Brasil. Mas não podemos ignorar a importância dos equipamentos que compõem as práticas e uso desses acervos, sua relevância para a memória da ciência e tecnologia no Brasil. Outrossim, o mobiliário necessário para manusear esses equipamentos antigos, também faz parte de uma história de uso singular nessa experiência imersiva da televisão. São mobiliários que tem sua morfologia destinadas apenas para aquele uso, nada mais além daquilo. Sua estrutura se mostra de certa forma incompatível para outros usos, não sendo possível transformar um equipamento em estantes de livros, por exemplo. São relações especificas entre estes artefatos que estabelecem práticas que gradativamente vão perdendo registro sobre seu uso no passado (mídias, equipamentos, mobiliário). E para entender o funcionamento desse antigo formigueiro de imagens, não se alcança apenas com a preservação das suas folhas (fitas), mas somente com a preservação dos seus antigos modos de fazer televisão. E essa preservação começa com o resgate de seus equipamentos abandonados, lugar onde viviam estes profissionais.

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