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Os currículos da EJA se colocam como um problema relevante para o campo da Educação há muito tempo. Mas com a ampliação do debate público sobre o currículo nacional promovida pela aprovação da BNCC em 2017, houve uma hipertrofia da expectativa social em torno das normatizações curriculares. Uma das compreensões em circulação acredita que um documento curricular pode ser uma efetiva solução para os problemas da educação. Seja nos debates públicos promovidos pelas diferentes instituições, seja no documento final da BNCC publicado em 2017, a questão do currículo da Educação de Jovens e Adultos, como modalidade da educação básica, continua a ser tratada como uma questão secundária, postergada como um debate não essencial. Ao lado desta visão insuficiente sobre os currículos, a aprovação da BNCC expõe uma série de problemáticas e questões em aberto a respeito da garantia da educação de qualidade, para todos e todas e independentemente da idade.

Currículos são dispositivos pedagógicos que relacionam sujeitos e saberes na experiência da educação escolar e, nesse sentido, são compreendidos como uma política do conhecimento oficial (LOPES E MACEDO, 2011), sendo responsáveis pela disseminação das culturas de prestígio em sociedades escolarizadas. Analisar currículos envolve compreender os processos de produção e circulação, as operações na produção de subjetividades e os processos de legitimação e deslegitimação de culturas, saberes e modos de vida, bem como compreender as relações de correspondência em relação aos sistemas econômicos e de poder que atravessam a escola e os processos de escolarização.

Os currículos de EJA representam um exercício de inscrição, no âmbito das políticas educacionais e pedagógicas, de uma modalidade de educação básica que se refere prioritariamente ao direito de estudar e aprender de pessoas que “não se alfabetizaram na idade certa” ou que “não concluíram os estudos”. É com a tradição crítica, e com a crítica da tradição, que se constitui historicamente um debate público sobre a EJA, envolvendo não apenas a garantia nominal do direito, mas sua materialização em programas e projetos como políticas de Estado.

O debate sobre os currículos para a modalidade EJA da Educação Básica referem-se à construção de práticas curriculares não infantilizadoras, que sejam capazes de estabelecer diálogos com os sujeitos adultos, de sua vida e interesses (ARROYO, 2017) abrem linhas de articulação de novos sentidos no cenário da produção curricular e estabelecem o direito à especificidade (CURY, 2000) e à diferença curricular (CORAZZA, 2017) como importantes enunciados em tensão com as ideias de universalidade, neutralidade e flexibilidade do conhecimento escolar. Currículos são construtos pedagógicos que realizam operações no tempo, descontextualizando e recontextualizando fatos, conceitos e valores em permanente processo de tradução de uma herança (CORAZZA, 2017).

Coleção NUPEP

Neste espaço, você poderá acessar os materiais produzidos nas atividades de pesquisa e extensão do NUPEP ao longo de diversas etapas da trajetória do núcleo. No primeiro momento, estará disponível a Coleção Proposta Pedagógica do NUPEP, composta pelos documentos curriculares para o Ensino Fundamental da Educação de Jovens e Adultos. Nesta Coleção, poderão ser encontradas as propostas curriculares para cinco áreas de conhecimento – Português, Matemática, Ciências Naturais, Ciências Sociais, Arte-Cultura – e, em cada área de conhecimento, os livros didáticos para cada ano do Ensino Fundamental na EJA.

Esta proposta curricular parte das estratégias metodológicas do Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA), importante experiência de uma escola com foco na modalidade. Publicada em 1998 pelo NUPEP – UFPE, se apresenta como proposição de superação ao descaso histórico com a Educação Popular, ao mobilizar o sentido político e cidadão do ensino da Língua Portuguesa contemplando suas diferentes representações sociais, em diferentes contextos, possibilitando a apropriação e  reelaboração dos aprendizes a partir da ampliação de seus  conhecimentos e levando em consideração seus desejos, visões de mundo e relação com a escolarização, como produtores de suas realidades, de textos e diferentes possibilidades de leitura do mundo e da palavra.

 

 

 

 


 

Esta obra apresenta a proposta curricular para o ensino da matemática no ensino fundamental da Educação de Jovens e Adultos e foi produzida pelo NUPEP em 1998. O documento apresenta elementos sobre o ensino e o processo da alfabetização em matemática, focalizando a problemática da aprendizagem matemática para a pessoa jovem e/ou adulta trabalhadora. A coleção completa da qual a proposta é a parte introdutória está dividida em dez módulos, e cada módulo pedagógico aborda os diferentes aspectos da história humana de forma interdisciplinar e em diálogo com o estudo da matemática. A metodologia básica proposta por esse livro materializa-se por meio de oficinas, nas quais o/a educando/a irá vivenciar diferentes momentos de aprendizagem, incluindo processos de avaliação. A proposta encontra-se distribuída em dez módulos que, por sua vez, são compostos de unidades didáticas, constituídas por objetivos e atividades, garantindo a vivência dos conteúdos significativos e adequados à uma educação matemática de qualidade.

 

 


 

A proposta curricular do ensino de Ciências Naturais destinada ao ensino fundamental foi desenvolvida pelo NUPEP em 1998. Nesta proposta, o ensino de Ciências é entendido como uma ferramenta que possibilita refletir criticamente sobre a sociedade, de modo que esta possa ser transformada. Com isso, o ensino de Ciências irá contribuir para fortalecer o/a estudante da EJA em sua vida cidadã. Nesta perspectiva, o professor planeja, organiza e reorganiza o ensino, a partir das necessidades geradas pela problematização das diferentes questões levantadas no processo de ensino-aprendizagem da ciência. O livro está dividido em 10 módulos, cada módulo estabelece reflexões/conexões acerca da origem e evolução da humanidade, sobre a sexualidade humana, ações humanas sobre a natureza, o uso de substâncias tóxicas, a saúde/doença, os serviços públicos, entre outros temas que fazem a integração do currículo proposto no documento.

 

 

 


 

Publicada em 1998, a proposta curricular da Oficina Arte e Cultura para o ensino fundamental da modalidade Educação de Jovens e Adultos prevê papel principal da Arte enquanto linguagem formadora da pessoa, principalmente no mundo de hoje com um fluxo diverso de informações divulgadas pelos meios de comunicação. Através de 10 módulos temáticos, valorizando a presença da Arte no cotidiano em suas diferentes formas de expressão, a proposta amplia as leituras de obras de arte para envolver o sujeito no aprendizado fazendo arte. Esta proposta, em consonância com as outras áreas de conhecimento contempladas na coleção, tem a finalidade de proporcionar ao estudante criatividade, flexibilidade e imaginação ao perceber o mundo ao seu redor com um olhar crítico sobre a realidade, não apenas absorvendo sons, imagens e movimentos de forma irrefletida, mas sim compreendendo os estímulos vistos em TVs, revistas outdoors, etc.

 

 

 


 

A proposta curricular de Ciências Sociais foi publicada pelo NUPEP em 1998. A proposta considera que a apreensão da realidade social é o resultado de uma construção científica que requer a contribuição de várias áreas do conhecimento. Logo, a teoria é definida como um conjunto de proposições que são confrontadas a partir de dados de observação, trazendo a reflexão sobre a prática para o debate da sala de aula. Os dez módulos presentes na proposta estão organizados para permitir que os estudantes possam ter uma crescente compreensão do processo de formação do espaço social, a partir da compreensão de crenças, valores e ideologias. O trabalho constitui-se como temática central na proposta, por ser um dos conceitos fundamentais para se entender o processo de construção da realidade social.