Taxonomia e sistemática de lagartos e serpentes neotropicais
Lagartos e serpentes são animais extremamente diversos, encontrados na maior parte do planeta. Hoje, existem mais de dez mil espécies de lagartos e serpentes descritas, muitas das quais foram descobertas nas últimas duas décadas, com mais de 1500 novas espécies e subespécies descritos nos últimos 10 anos. Esses dados revelam que, apesar do número crescente deatividades de pesquisa, a diversidade de lagartos e serpentes ainda é bastante subestimada, seja pela falta de amostragem geográfica adequada, seja pela existência de espécies com ampla distribuição geográfica, que muitas vezes escondem uma diversidade maior sob um único nome. Isto ressalta a necessidade de uma contínua e intensa investigação da diversidade e das relações evolutivas entre as espécies, com a constante adequação da taxonomia do grupo. No LHERP, desenvolvemos projetos que têm por objetivo revisar a sistemática de répteis Squamata (lagartos, serpentes e anfisbenas) amplamente distribuídos na região neotropical. Para isto, integramos a análise de caracteres morfológicos externos e internos e dados obtidos a partir de marcadores moleculares, propondo novas hipóteses filogenéticas envolvendo as espécies de cada um dos grupos. Este tipo de abordagem também nos permite descrever novas espécies que porventura sejam identificados dentro de cada um desses grupos, além de possibilitar uma maior compreensão da diversidade neotropical e subsidiar estudos e ações em ecologia e conservação.
Diversidade e conservação de anuros neotropicais
O Brasil é atualmente reconhecido como o país que concentra a maior diversidade de anfíbios anuros do mundo. Apesar de encontrar-se em franco crescimento, o conhecimento sobre a diversidade e distribuição de espécies deste grupo ainda é bastante incompleto, o que tem dificultado ou atrasado estudos abordando questões evolutivas e ecológicas e também a definição de estratégias de conservação eficientes. A Mata Atlântica e a Amazônia brasileira são especialmente importantes como centros de diversidade para anuros, abrangendo cada uma, mais de uma dezena de zonas de endemismo ou ecorregiões. Muitas espécies de anfíbios têm distribuição geográfica restrita, resultando em áreas de ocupação muito menores que aquelas previstas pela cobertura do tipo de habitat adequado. Pequenas áreas de distribuição e tamanhos populacionais reduzidos costumam ser determinantes para estas espécies se tornem vulneráveis à destruição ou degradação ambientais. Aliadas à dependência de algumas espécies por ambientes de reprodução muito específicos, estas características tornam os anuros o grupo com a maior proporção de espécies alocadas em alguma categoria de ameaça entre todos os vertebrados.
Apesar de conter uma menor riqueza de espécies de anuros do que aquelas encontradas na Mata Atlântica e na Amazônia Brasileira, a Caatinga é extremamente rica em relação à diversidade de estratégias ecológicas e adaptações das espécies ao clima semiárido e extremamente sazonal. Estas adaptações resultam em uma diversidade funcional única, não observada em ambientes de floresta pluvial. A topografia e a história geológica da Caatinga também determina a ocorrência de vegetação florestal relictual em áreas de altitude e encostas (frequentemente denominadas “brejos de altitude” ou “brejos nordestinos” – Santos et al. 2007), os quais teriam atuado durante a história geológica recente do continente como áreas de estabilidade climática, permitindo a sobrevivência e diferenciação (por vicariância) de linhagens de anuros cujos centros de origem provavelmente localizavam-se na Mata Atlântica (Carnaval et al. 2009).