por Flávio Maia | fmarciliom@gmail.com
O desenvolvimento da internet nos últimos vinte anos tem trazido novos hábitos e formas de consumir os produtos culturais. As redes sociais e plataformas digitais possibilitaram um novo olhar para as diversas produções da Indústria Cultural e conteúdos amadores, que juntos parecem coexistir e proporcionar entretenimento aos seus consumidores e usuários. Dentro desse contexto, personalidades ganham destaque muitas vezes como meme e conquistam um público que parece direcioná-las para um sistema de estrelato (starsystem). Este fenômeno que surge de forma digital e muitas vezes voltada a um nicho é demarcado por personagens peculiares e icônicas para a cultura pop brasileira.
Tulla Luana, Inês Brasil, Leona Vingativa, Blogueirinha e Valéria Almeida são algumas destas personalidades que ganharam status de celebridades da internet, ou como nomeamos nesta pesquisa, “Web Divas”. Por se destacarem essencialmente na internet trazendo diferentes percepções para além do canto, um elemento essencial e característico de uma Diva Pop, e tendo a polêmica e a extravagância como características principais, estas personalidade femininas se apropriam de elementos da cultura pop (música, telenovela, reality show, videoclipes, memes, mashup, cover) e têm em comum duas particularidades: a primeira é o sucesso que parece vir inicialmente de um público mediado por telas em plataformas digitais na internet, sem contato comroteiros midiáticos, estratégias mercadológicas direcionadas à produção, circulação e consumo nos meios de comunicação; e a outra está na aproximação com a indústria do entretenimento, seja pela criação e consumo de músicas, apresentações ao vivo ou por aparições na mídia numa proposta de hackeamento midiático, processo de subversão de um sistema, indústria ou até mesmo a ideia de roteiro acima pontuada.
O objeto principal da pesquisa são as narrativas digitais que proporcionam a criação, por parte do público, de uma “Diva da Internet” contribuindo para a estruturação de um mercado fora do mainstream, que permeia o meio digital e tornar-se relativamente popular. Inicialmente Tulla Luana, Blogueirinha e Valéria Almeida compõem o corpus de pesquisa. Entender como se deram as suas construções narrativas a partir de elementos que permeiam a Cultura Pop, e suas contribuições e controvérsias para a indústria musical e do entretenimento é o objetivo principal da pesquisa. Entre os objetivos específicos estão: a) categorizar os elementos midiáticos e sociais que constituem uma Diva da Internet brasileira; b) analisar o papel do público como mediador do sucesso ou fracasso de uma personalidade na internet; c) identificar como a internet, a partir plataformas, ferramentas digitais e redes sociais tem possibilitado transformações no mercado da música nos últimos vinte anos e como isso se aproxima do contexto das Web Divas, entendo a música pop como importante articuladora de consumo.
A problemática exposta se dá pela perspectiva da Diva Pop, a partir de uma construção midiática da Indústria Cultural, na qual são atribuídos requisitos técnicos ligados ao corpo, performance, valor de gosto e outros, gerando a seguinte reflexão: o que leva o público a se aproximar de artistas que se apresentam de uma forma oposta? A principal hipótese está na sensibilidade Camp (Sontag, 1965; Babuscio, 1999) aproximando a idealização de coisas que são o que não são dentro de um nicho social que se apropria e recria imaginários de consumo na internet em plataformas digitais. A pesquisa se baseia em três eixos iniciais: a performance, categorizada em midiática (SOARES, 2021) e de gosto (AMARAL,2016); o entretenimento em tela a partir da Economia da Atenção (HAN, 2019; BENTES, 2021) e a Cultura Pop (SOARES, 2013) na internet brasileira.
REFERÊNCIAS
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JANOTTI JR., J. S. Além do rock: a música pop como uma máquina de agenciamentos afetivos. Revista Eco-Pós, v. 19, n. 3, p. 108-123, 2016. Disponível em: <https://bit.ly/3UH6PaE>. Acesso em: 14 jul. 2024.
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