Podcast – [Metaverso da Saúde] Sexualidade e vulnerabilidade feminina

Centro Acadêmico de Vitória - UFPE

Podcast – [Metaverso da Saúde] Sexualidade e vulnerabilidade feminina

[Metaverso da Saúde] Sexualidade e vulnerabilidade feminina

No episódio de hoje, Ana Darla, Karol, Vivianne e Mayra discutem sobre certas incoerências e vivências que experienciaram como mulheres no dia-a-dia, além de comentar como é vista a mulher lésbica em consultas médicas.

Alerta de gatilho (Trigger warning): assédio, estupro, homofobia


E aí, pessoal, aqui quem fala é o pessoal do contêiner, saúde esse daqui, que é um projeto vinculado ao UFPE centro acadêmico de Vitória.

Hoje a gente vai falar com vocês sobre sexualidade feminina e também.

O sexo seguro é uma coisa que a gente vai trazer, que traz muitas importâncias para todas as mulheres em si.

E com vocês aqui, a gente tem outras participantes que agora vão se apresentar. E aí galera, meu nome é Carol também vou participar dessa discussão e a gente vai quebrar alguns tabus hoje.

Eu sou Viviane, eu também vou estar aqui com vocês hoje.

Oi, gente. Meu nome é Maíra.         

Agora eu vou trazer um questionamento pra gente iniciar essa conversa, que é justamente o por que que a gente vai falar da sexualidade feminina?

A gente vai falar sobre isso porque é um assunto que precisa ser tocado, porque dentro da saúde a gente vê.

Muitos meios contraceptivos, por exemplo, que vão avançando, é muitas temáticas acerca de sexo com proteção e a gente não vê isso dentro.

Da sexualidade feminina?

Eu acho que é muito importante a gente trazer esse questionamento. Como se proteger e como isso vai influenciar dentro da sexualidade de uma mulher?

Além do que, é importante a gente lembrar que a gente tá no mês de março, que tem o Dia Internacional da Mulher.

Então, nós pensamos nesse tema que é muito importante a ser debatido como Ana Darla falou.

Além do mais, a sexualidade feminina, ela é marcada por repressão e mudanças, né? Então, a gente evoluiu bastante, mas ainda tem muita coisa para evoluir.

A gente também pode lembrar que essa problematização ela vem junto com o machismo, né? Que vem desde 1900 e não sei quanto, e querendo ou não. Até hoje a gente tem marcas.

Inclusive das próprias mulheres. A gente às vezes acaba perpetuando essa cultura machista.

Sim, é uma coisa estruturada, na verdade, que está dentro da sociedade, então, como se torna cômodo?

Viver sempre naquela mesma temática é muito mais difícil a gente desconstruir uma coisa do que construir, então, em cima justamente desse machismo, existe essa dificuldade de sempre estar tocando nesse assunto da sexualidade feminina.

Exatamente. A gente nasceu nesse meio machista, né? Então.

Às vezes, nós mesmos cometemos o machismo com a gente mesmo.

Então a gente sempre fica nessa de se corrigir e além do mais, a sexualidade feminina não envolve só isso, né? A gente pode trazer assuntos aqui como o prazer mesmo feminino, eu pelo menos como uma mulher lésbica, sei que envolve tanto tabu que.

Fica difícil trazer tantos tópicos aqui para tratar.

Então, a gente pode começar com  o passado feminino. A partir de 1960 por aí que o prazer feminino não existia, praticamente o sexo era só para se fazer filhos. Só para a reprodução e tudo mais.

Em satisfazer o homem.

Exatamente.

Justamente, se você demonstrasse que estava gostando, você poderia até apanhar.

E com razão, pelo marido.

Em algumas culturas até hoje isso existe ainda, onde, por exemplo, a castração, por exemplo, feminina.

A retirada do clitóris de uma forma muito agressiva ainda com crianças. Essa mutilação, né?

Que isso envolve que a mulher não sinta o prazer feminino.

Porque em algumas culturas é visto como sujo, pecado, é errado. A mulher não pode sentir prazer. Ela é feita para gerar filhos e isso também importa muito atrelado à saúde que vocês estão falando, eu lembrei de um caso que, em algumas culturas, não vou lembrar especificamente qual, mas eles não têm o hábito, né? De tomar banhos diários e o banho geralmente é atrelado a um ato após a relação sexual.

Então, quando a mulher toma muitos banhos por dia, o marido repreende, não gosta que é como se a mulher fosse uma promíscua, digamos assim.

Exatamente, e trazendo para os dias de hoje, quando a psicanálise começa a falar sobre sexo, começa a trazer esses assuntos para a mulher. Quando a mulher começa a entender de seu próprio corpo não sente nojo, porque.

Eu acho que até a gente conversando com nossos avós, elas contam como era duro ser mulher naquela época, não é? Então não se falava sobre sexo, não se falava sobre prevenção, não se falava sobre os métodos contraceptivos, sobre tudo que envolve o nosso corpo, né? Então a gente a nossa ideia hoje é tratar sobre isso, falar sobre esses vários assuntos que nos envolve.

E que fazem a gente querer saber mais.

Em minha gente, eu vou relatar aqui uma parte de algo que aconteceu comigo. É especificamente com meus pais. Eu escutei que um homem podia ter até 7 mulheres, enquanto que uma mulher poderia levar “Gaia” do jeito que for.

Minha gente.

Ela tem que estar lá aguentando. Isso me marcou tanto. Isso foi um dia desses para vocês? Têm noção? Meus pais são novos. É novos assim, entre aspas, não é? Tem 50 e poucos anos lá. Isso me deixou chocada, tanto que eu e meu irmão.

Discutimos com eles e meio que praticamente não entenderam nada.

E por isso que isso é muito importante de estar sendo falado.

Mas é, tem bem essa questão, porque os pais realmente, por não serem mais novos. É um pouco chocante, mas se a gente pegar um pouco ali a questão dos avós, bisavós, tem aquele hábito, né? Alguns dizerem assim, alguns bisavós, avós, dizerem.

Mas eu, fulano, ciclano, separou por conta da  traição, mas eu não aguentei e eu não, né? Num passei por isso, não, mas ele tem outras fora, mas ele está casado comigo. Ele volta para casa e também tem a questão do risco, né? De infecção sexualmente transmissível porque

Tem até um trecho que eu vi de Twitter na internet. Não sei se é real ou se for só um meme, digamos assim. Mas chegavam para mulheres, e diziam. Você tem parceiro fixo, ela dizia, tenho, aí a pessoa perguntava, aí, seu parceiro tem uma parceira fixa? É importante lembrar que, por mais que as mulheres se cuidem, façam o preventivo e tudo mais. Se elas estão com um parceiro que tem relação fora do fixo, né? Do que deveria ser fixo e ela não se protege, porque também tem essa questão. Não é do povo pensar. Eu sou casada. Não precisa, principalmente mulheres com laqueadura. Não é para quê? Porque tem ainda também essa cultura do, métodos contraceptivos ser apenas ligado à gravidez.

Então, muitas mulheres, elas acabam não se protegendo.

Seu marido trai.

E acaba contraindo alguma  infecção sexualmente transmissível, isso não é só, se a gente, parar para pensar, não são dados antigos, têm muitos dados atuais relacionados a isso, sabe? E também em grande parte por conta da questão da religião. Acho que as meninas querem falar um pouquinho sobre isso.

É interessante trazer essa discussão também pro lado religiosos porque realmente existem algumas religiões que tratam o meio da relação sexual como uma coisa divina que tem que ser para contemplação de filhos e coisas do tipo. Então, quando você pega a antiguidade estuda e chega no povo hebreu. Você vê que eles antigamente tratavam o ato da ejaculação masculina ser o fruto de uma semente, e essa semente não poderia ser jogada fora. Então isso era considerado errado, era considerado um crime perante os olhos de Deus, então o homem, ele só poderia praticar o ato da ejaculação dentro do canal vaginal da mulher e, sendo assim, ele não poderia praticar esse ato sexual, vamos dizer assim, por puro prazer ou jogando sua semente fora. Então, alguns desses hábitos ainda são tratados assim hoje em algumas religiões.

É um pouco chocante, mas acontece.

É chocante mesmo a gente assim, nada contra, não é a religião, mas a partir do momento que interferir na minha liberdade, eu vou achar ruim, mas eu já escutei isso de pessoas na universidade, que tipo, a mulher só pode ter um ato de prazer, um ato sexual se for para procriar, eu já escutei de pessoas aqui na universidade falando sobre.

E, tipo.

É um pensamento tão burro, né? Mas assim, eu respeito, se for a religião dela, que elas fazem isso para ela, não é. Se não impor isso para as outras mulheres, porque eu acho que ficaria complicado.

Mas isso acaba sendo bem problemático porque aqui, se não for uma profissional de saúde formada, é uma pessoa informação. Então, o que é que ela está passando para seus futuros pacientes?

Que visão ela tá levando para um hospital, né? Porque ela vai atender todo tipo de pessoas, de todo tipo, de religião.

E que ela guarde bem esse pensamento só para ela.

Fofoquinha, fofoquinha, é de enfermagem? Aluno? Aluna. Gente, mas não me espanta. Eu, por exemplo,  nas minhas consultas que eu já tive com médicas ginecologistas, a primeira coisa que elas perguntam é a não quando você iniciar sua vida sexual com um homem…

Elas não deduzem, você tem um parceiro ou você tem uma parceira, qual é a sua sexualidade?

É inteligente, você perguntar sobre esse tipo de coisa, porque como é que você vai instruir o seu paciente aí, lá está com a consulta com você, como é que você vai deduzir que a pessoa ela tem a sexualidade hetera, apenas por, a não todo mundo na face da Terra é hétero, então fulaninha também vai ser. Aí, tipo, você também, eu acabo ficando retraída nesses momentos, porque a minha cara de paisagem, a não, desculpe senhora, mas eu não me relaciono com homens.

É meio constrangedor, você tem que olhar assim para a pessoa, então isso não vai acontecer. É constrangedor. Eu me senti constrangida e foi mais de uma vez que isso aconteceu, então.

É ****, porque eu passei por isso, é fazer um tratamento com a dermatologia.

Que o remédio, não sei se vocês conhecem que é o akutan, sim, ele que ele é um remédio que tem muitos efeitos adversos. E se você engravidar, provavelmente o seu filho vai nascer com malformações, entendeu? Só que todo mês, quando eu ia renovar a receita, eu tinha que levar um exame do beta hcg negativo, sendo que toda vez eu explicava pra ela.

Que não era tipo, não ia ter o perigo, vamos dizer assim porque eu não me relacionava com homem, só que ela não respeitava isso.

Tipo, ela não confiava em mim, eu acredito, não é?

E ela sempre pedia esse exame sempre e eu dizia.

Mas por que a senhora está pedindo isso? Se eu não me relacionei com homens?

E ela sempre queria, sempre queria é as questões dela, não?

E o que ela respondia?

Ela diz, não só para a gente ter certeza, não é?

Eu ficava só. Meu Deus, como assim ter certeza?

Para ter certeza se ela ainda disse assim, é questão de protocolo e tal.

É o que eu imaginei né.

Ela não me respondeu isso, entendeu? Se ela respondesse se ela respondesse isso.

Seria aceitável, não é? Mas cada um com seu preconceito aí.

Mas realmente existe esse preconceito entre relações com mulher e mulher, porque a maioria das pessoas deduzem, é uma fase, vai passar.

Pois é.

Aí não rola ali um respeito.

Exatamente, e eu fiz questão de dizer, ela que eu não me relaciono com homens.

Então não precisa estar pedindo esse exame me sujeitando a esse exame, né? Porque é uma furada todo mês.

Aí vamos quebrar outro tabu aqui que hoje eu vim para militar, como é que, em pleno século 21, a gente vive na era da informação, da tecnologia, do avanço da saúde e até hoje não foi pensado em uma proteção para proteger mulheres, lésbicas, bissexual?

As mulheres que se relacionam com mulheres.

É só pensado em camisinha para o sexo entre homem e mulher, ou então homem, homem.

Eu acho que na verdade, a camisinha realmente só pensada para o relacionamento hétero, mas acaba que no relacionamento homossexual masculino não é.

Dá para se usar.

Né? Dá para se usar justamente.

Mas eu não acho que foi pensado nisso. Eu acho que realmente essa questão do hétero

Pois é.

Sofre uma exclusão até as pessoas mesmo perguntam, vocês não usam camisinha? Mas, tipo.

Como é que vai usar se não foi feito para o sexo entre 2 mulheres está ligado, porque a camisinha que tem ela é feita para o órgão masculino penetrar lá, entendeu? E não para 2 mulheres, existe muito improviso. Não é que, na verdade, algumas pessoas usam tipo assim. Eu digo algumas pessoas, porque nem todo mundo conhece, nem todo mundo se informa

Mas, por exemplo, no sexo oral, você abrir a camisinha lateralmente, a parte de baixo para fazer como se fosse uma tela ali e usar durante o sexo oral. É, tem também pessoas que.

Mas tipo, nem isso vai fazer ter segurança, né? Porque não vai estar aí, tá rolando.

Não é pensado justamente para isso?

É, pois é, e esse tema que a gente está tratando aqui, a gente falando abertamente, já quebra muito tabu, porque isso não era falado antigamente, não é, tipo, muitas pessoas tinham dificuldade de dizer á eu sou lésbica, eu sou Bi, aqui a gente tem o que? 2 mulheres hétero, uma lésbica, uma bi? Darla é Bi? Nada.

Não, lésbica.

Ela está me julgando.

Então vamos lá, continuando o papo.

E agora a gente traz um pouco para o outro lado da mesa. Aqui as meninas que são hétero e vão falar um pouco sobre.

Eu vou começar falando. Viviane falou no começo sobre um meme, não é? Eu vou falar sobre outro que é, não é nenhum meme. É a partir de um filme em que a menina vai com o rapaz até o consultório de Ginecologia para ver o resultado dos exames dela e praticamente a ginecologista fala que ela tem todas as infecções sexualmente transmissíveis. É, eu escutei um dia desses também. Eu só digo um dia desses, porque eu nunca lembro quem foi que me disse de onde saiu, que uma mulher tinha pegado tanta infecção sexualmente transmissível que ela chegou a morrer, porque tem a questão de baixar a imunidade da mesma, né? E isso é muito recorrente entre.

Relacionamento hétero sexual.

É, e a galera às vezes resume só ao HIV, quando tem várias outras e ainda desse, dentro dessa questão da sexualidade feminina, tem uma coisa bem importante, né? É pesada que é a questão do assédio e o quanto isso afeta o psicológico e a saúde das mulheres que acabam sofrendo com isso, né? Seja de forma mais abusiva ou de uma forma mais não sei se leve seria uma forma correta, né? Mas tem vários tipos de assédio e eu acho que toda mulher, alguma vez na vida já passou por isso, ou pelo menos 99%, né? Não vamos englobar também, fica muito difícil englobar todo mundo, mas boa parte das mulheres já passaram.

Minha gente, e se eu disser que eu, Mayra, sofro todo dia com o assédio sexual todos os dias, todos os dias, principalmente depois que eu era bem magrinha e tem essa questão de que a mulher, quanto mais ela é “padrão” ela mais sofre  assédio sexual e como eu trabalho com fatos, sempre, semana passada eu fui para o estágio na restauração.

E, como todo mundo sabe, os transportes daqui de Recife daqui não é que a gente tá em Vitória de lá de Recife, são extremamente lotado.

E para a mulher, é uma coisa muito difícil, muito difícil mesmo. Eu fui, já fico pensando antes de sair de casa, meu Deus, vou ter que enfrentar aquele metrô, aquele ônibus. Não sei se alguém vai se esfregar em mim hoje. Não sei, não sei se vai se esfregar em mim ou no metrô, ou no ônibus. E nesse dia foi no ônibus. O ônibus estava lotado, eu entrei e chegou um idoso mais ou menos idoso, não é? 50 e pouco, 40 e pouco.

Ficou mesmo atrás de mim.

E ele não estava se esfregando, mas estava encostada na minha bunda. Eu não quero que ninguém encoste. Aí foi, eu virei com a bolsa nele, bateu e ele percebeu que eu tinha percebido que ele estava querendo se aproveitar, e um menino, acredito eu que ele era gay. Ele meio que me chamou e eu fiquei de Costa para ele, para que ninguém mais se esfregasse.

Isso acontece muito quando eu pego o transporte público, eu já evito. Eu acho que muitas mulheres também já evita. Fica perto de onde tem muitos homens. Aí já vou mais para uma parte que tenha mulheres, só que metrô não é gente, é uma caixinha de surpresa.

É difícil.

Às vezes, você entra, está numa parte perto de mulheres. Aí do nada, começa a lotar a gente, né? Você é levado, você não escolhe quem vai ficar perto de você?

É levado para onde dar.

Aí você já vai para outra parte. Lá que aparecem os homens como Maíra estava falando isso, de avançar depois.

É desconfortável. Eu já passei por isso também. Acho que toda mulher, né? Passa por esse tipo de situação e não fica confortável em canto nenhum. A gente não se sente seguro em canto nenhum tipo, eu não sei se vocês já ouviram essa história de tô andando na rua e percebo que tem alguém atrás de mim e quando eu vejo que é uma mulher, eu me sinto aliviada.

Dá um alívio, né?

Uma vez, mesmo que eu estava saindo para ir para a academia à noite, aí na rua da minha casa, eu me afastei assim, eu acho que cerca de uns 200 m eu acho aí quando eu me afastei, nisso, tinha uns homens trabalhando, fazendo o descarrego lá, de alguns mercadorias. Aí eu passei na hora que eu passei, ele começou a fazer piadas impróprias junto com o outro cara, que acredito que também estava trabalhando com ele, dizendo, olha fulano, olha para isso e não sei o que fazendo umas piadas desconfortável, mas era referente a roupa que eu estava usando, o meu short.

E eu fiquei super desconfortável, a vontade de xingar de bater.

Nossa, eu acho que você está ali sozinha,se reagir, você sabe que vai rolar outra coisa ali é? Você se sente intimidada por uma coisa desse tipo, um assédio, você é obrigado a passar por isso e às vezes precisa nem falar, às vezes não são os olhares quando a gente passa.

Eu não sei vocês, mas você sente como se fosse um lixo mesmo, sabe?

Só serve pra aquilo.

Né? Tipo intimidada como Darla falou muito mal e isso acaba afetando muito psicológico das mulheres e como elas lidam com essa questão da sexualidade e tudo mais?

Lembrando que eu também sou uma pessoa que gosto muito de usar roupas curtas e não é curta, normal, não é curta mesmo. E essa questão é a sociedade, põe a culpa nas mulheres por estar usando aquele tipo de vestimenta. E aí a gente lembra, e as criancinhas que são violentadas é, foi culpa da roupa?

Exatamente, isso é uma cultura do estupro que a gente tem na nossa sociedade, né? Então, não se coloca culpa na roupa, nos coloca onde você tava. Por que você saiu tarde de casa? Porque eu mesmo penso muito nisso. Quando eu vou para academia, por exemplo, que Darla citou agora, eu penso 2 vezes antes de sair à noite, porque eu tenho esse medo, né? Esse medo tá em mim e não era pra isso acontecer, é pra gente poder sair a hora que a gente quisesse, pra gente não se importar com isso de roupa, short mesmo aqui em Vitória, eu vim usar um dia desse porque eu não me sentia confortável de sair na rua de short, porque como eu morava aqui no centro, tipo quem é tudo isso? Não é perigoso e tal, não vou facilitar bem, dizer eu sendo preconceituosa comigo mesmo, mas eu não me sentia segura de short.

E falando disso também, minha gente só vai ter fatos aqui sobre mim, né? Porque Carol falou da questão, do da hora um dia desses eu sair com uma amiga minha a gente chegou em casa, era cerca de 3 horas da manhã e o que minha mãe falou no outro dia?

Está parecendo um homem?

Eu fiquei chocada também. Discutir de novo.

Porque eu não sou obrigada, mas está aí a questão.

Ela foi criada nesse meio, não é? E é muito difícil. Você como filha, acho que poderia repreender sempre, repreender.

Meio que repreender. Talvez nem a gente consiga tanto, porque eu também tinha isso na família e a pessoa cansa, não é? Mas a gente trazer mãe não é assim ou não é assim que funciona.

A senhora tem esse pensamento, mas.

Não existe mais isso.

Não é?

Vamos ser feministas e trazer o feminismo dentro de casa.

Bora galera, mulheres.

Girl Power, vamos galera.

Vai Vivi, então como Carol jogou para mim, eu vou aproveitar e contar brevemente a história de um episódio de Grey’s e que eu assisti. Eu não assisti essa série toda, minha gente, mas esse foi o primeiro episódio. Vai assistir porque eu vi uma pessoa comentando e fui assistir só ele.

E ele traz algumas coisas relacionadas à sexualidade da mulher e traz um pouco do que as meninas disseram que tem medo de sair à noite. Resumidamente, uma mulher, ela sai, ela está com o marido, na verdade, em casa e eles brigam por uma besteira uma toalha, não lembro direito, sei que ela saiu, foi pra um barzinho espairecer.

Quando ela volta na rua, é, ela acaba sendo abusada, então ela aparece no hospital no outro dia. É daí que começa a parte da série, né? Depois de descobrir que aconteceu antes, mas ela chega no hospital toda machucada, eu não me recordo porque exatamente ela apareceu lá, se foi para tratar de um machucado específico de uma ferida específica, mas perceberam que tinha algo estranho então as mulheres chegaram lá perto para conversar com ela, profissionais, mulheres e percebendo também que ela estava com medo dos profissionais homens, então não conseguiam chegar perto dela. E daí disseram, tem uma coisa aí. Ela foi abusada, alguma coisa aconteceu e com muita insistência, depois conseguem convencer ela a dizer o que houve, ela conta. Ela desabafa para 2 profissionais, não lembro quais personagens são, porque, como eu disse, eu não acompanho, mas essas duas profissionais, ela, ela chega, desabafa, né? Eu vou dizer o que? O que eu vou dizer para o juiz?

O que eu vou denunciar? Dizer que eu estava em casa? Briguei por uma besteira com meu marido.

Eu, mulher, sair sozinha, tarde da noite e sair para um bar.

Ia voltar pra casa, andando só e daí apareceu esses homens. Quem vai acreditar em mim, sabe? E ela ficou bem machucada mesmo, tem até uma cena bem marcante.

Tu já assistiu, não foi?

Assisti.

Pronto, uma cena bem marcante que quando ela precisa ir para para o bloco cirúrgico.

Então eles retiram todos os homens daquele andar e ficam formação paredão de mulheres, né? Pacientes e tudo mais. E ela passa assim por entre as mulheres, tipo para representar realmente essa imagem de força, e do quanto as mulheres precisam apoiar a outra e acaba que depois ela acaba contando para o marido também. Mostra o final do episódio, assim, um policial pegando o caso dela, ela ainda estava no hospital.

E o marido ao lado dando força. Então esse episódio me fez refletir muito sobre essa questão do quão a voz da mulher é invisibilizada nessas questões da sexualidade e também traz um pouquinho questão de gravidez. Não sei se tu lembra que uma das médicas da série, ela era doida para descobrir quem é a mãe dela que ela foi abandonada.

Aí, resumidamente também no mesmo episódio,  quando ela consegue encontrar a mãe, e a mãe dela foi abusada ainda na época da faculdade e a mãe realmente abandonou e quando ela chega para ver a mãe, né, descobre quem chega na casa e ela vê que tinha filhos. Essa mulher, né coroa e que já tinha passado  mais de 20 anos, tem filhos, tinha se casado, até quando ela viu principalmente a questão dos outros filhos que ela tinha. Ficou bem, não é chocante e daí custou um pouco ela entender essa questão de por ser fruto de um abuso. Ela ficou com medo de contar, então realmente foi uma gravidez escondida que ela acabou abandonando e tal, mas depois de alguns anos ela reconstruiu a vida. Então tem esses dois lados, sabe?

Pois é, a partir desse episódio que contou, aí eu lembrei do papel do enfermeiro e quando acontece esses casos, não é que até o enfermeiro forense que participa disso, que é recolher as provas para que na hora que essa mulher decida fazer a denúncia, as provas vão estar lá no saquinho recolhido e tudo mais. Então, cabe ao enfermeiro forense fazer esse papel, nos Estados Unidos, lá tem uma pessoa só pra isso, então ela vai pegar o DNA que vai estar na mulher. É, eu lembro que ela tinha levado uma mordida, então dali conseguiam fazer a arcada dentária da pessoa que fez isso. As digitais que ele deixou nela. Infelizmente, esperma e tudo mais. Entre essas coisas, não é?

É, depois a gente pretende trazer um episódio especificamente disso. Carol, já deu um spoiler, era aí pra vocês ficarem curiosos.

E tem uma outra questão também é de nós futuras enfermeiras. Nós futuros enfermeiros que esteja escutando ou outros profissionais da saúde, porque por mais que os enfermeiros sejam também profissionais, assim linha de frente, digamos assim, às vezes o contato acaba sendo direto com outro profissional primeiro, sabe? Então, aqui é um centro com cursos da saúde, então é legal a galera estar atenta a isso.

Então, assim, por exemplo, na atenção básica, nas UBS. Sabe quando chega uma mulher? Então a gente tem esse papel de orientar, de ensinar. Muitas vezes, as pessoas chegam lá, homens também não são só mulheres, não sabem como usar um preservativo, como usar aquele método contraceptivo, então é muito importante essa orientação por parte de nós.

Por mais que procurem, a gente sempre sabe que não é uma procura, não é tão procurada por mulheres, por exemplo, a camisinha.

Normalmente, a que é mais procurada orientação como se usa e  tal,  é a camisinha masculina e a mulher, ela precisa dessa atenção, ela precisa se prevenir também. Da melhor forma que puder.

A gente sabe que isso não é possível para todas as mulheres.

E sempre lembrando de nós, como profissionais ou futuros profissionais ou seres humanos. No geral, não temos nenhum direito de julgar ninguém e nem consequências, nem sei lá, o que vem acontecendo, né? Como as meninas explicaram. Vocês entenderam o que eu quero dizer. Como as meninas explicaram essa questão da religião, de julgar as mulheres, isso e aquilo, mas isso às vezes está atrelado também a ao caráter das pessoas de julgar e tudo mais.

O enfermeiro, ele é um profissional no momento em que ele está vestindo ali a farda dele, ele se desvincula das suas crenças, e dos seus valores. Assim, haja eticamente como profissional por que é o que você vai precisar fazer, você que escolher enfermagem ou qualquer outro profissional da área da saúde para o resto da sua vida.

Então, ali você está levantando, tipo assim, uma Bandeira do cuidado do ser profissional que você vai precisar ser.

Exatamente, até porque se você for trabalhar no SUS, pelo menos é universal, não é? Então, além de levar essa informação para onde ela não chega, os juízes não chegam, onde ninguém chega, mas qualquer cidadezinha que você for, sempre vai ter um SUS lá.

Então é importante que as pessoas respeitem isso, não é? Levem a informação para as pessoas, ensinem.

E que a mulher possa ser sempre elevada.

Minha gente, eu quero deixar aqui uma informação para vocês, principalmente mulheres que lá no polo da UFPE do campus Recife, tem um projeto.

Um projeto em que as mulheres podem chegar lá e por apenas 5 reais conseguem fazer uma prevenção completa. Fica no centro do Recife, no centro, se não me engano, no centro de Biociências, você chegando lá no hospital das clínicas já conseguem pedir informação.

Então é isso, gente. Esse foi nosso primeiro episódio especial para as mulheres, mas é importante também os homens escutarem. E a gente vai ficando por aqui, está certo?

Exatamente, março como um mês da mulher é um mês político, não é um mês romântico não. Então a gente sempre está vindo aqui falar e essa é a parte 1, a gente vai fazer uma parte 2 sobre outros assuntos também que envolvem a mulher.

Xau, galera. É isso aí, galera, mulheres.

O poder feminino, lembre-se, homens que vocês vieram ao mundo por mulheres, então cabe aí o respeito e muita responsabilidade na hora de tratar uma mulher com respeito.

Tchau, galera. Aí eu amei falar sobre esse assunto, já que é algo que é muito difícil de  ser falado, principalmente com mulher, por pelas próprias mulheres, não é? Tchau, gente.

Tchau, tchau.

Episódio: Sexualidade e Vulnerabilidade feminina

Apresentadoras: Ana Darla, Karol, Viviane e Mayra

Cordenação: Luiz Miguel Picelli Sanches

Instituição: UFPE- Centro Acadêmico de Vitória (CAV)

 

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