Podcast – [Metaverso da Saúde] Residência (Saúde da Criança)
Podcast - [Metaverso da Saúde] Residência (Saúde da Criança)
Você é aluno de enfermagem e tem dificuldade em conhecer mais sobre residências? Então vem que no episódio de hoje, Matheus e Karol entrevistaram Jean Alves, ex-aluno do CAV-UFPE e atual residente em Saúde da Criança. Jean trouxe um pouco sobre suas motivações, a rotina de um residente, o que esperar da bolsa, dicas para melhorar seu currículo e muito mais!

Fala galera, somos o metaverso da saúde, que é um podcast ligado ao contêiner saúde, um projeto de extensão da Universidade Federal de Pernambuco, no Centro Acadêmico de Vitória. Ela é coordenado pelo professor Luiz Picelli e meu nome é Matheus. Hoje a gente está com um convidado, ex-caviando, o Jean Alves, Jean ****, Jean do CAV o famoso para conversarmos um pouco sobre os caminhos para a residência e a gente vai estar dando continuidade, aqui, a algumas entrevistas que são intituladas de enfermagem e suas profissões.
E aí, galera?
Meu nome é Carol, também vou estar entrevistando o Jean.
Isso aí, Carol, vai estar junto aqui comigo e a gente vai estar conversando um pouquinho com o Jean sobre esse comecinho dele na residência, não é Jean?
Isso aí.
E aí galera? Tudo bom? Espero que vocês estejam bem. Meu nome é Jean e como o Matheus falou, eu sou enfermeiro, sou ex-caviando, me formei na UFPE CAV, atualmente sou residente em saúde da criança pelo Hospital Dom Malan, do COREME IMIP, hospital que fica localizado em Petrolina.
É isso aí, gente, para a gente começar a conversar um pouquinho. Eu gostaria de saber como é que foi essa tua preparação para residência? Como é que funcionou? Como é que tu estudou? Como é que tu estava fazendo? E sobre também aquela questão que a gente desde o começo, assim alguns, não é? Alguns mais, outros menos, mas sobre questão de pontuação, monitoria, artigo, extensão, pesquisa e realmente montar o currículo, como é que foi essa tua preparação? Tu pode falar um pouquinho para a gente.
Vou ser bem sincero. Na verdade, a minha vontade sempre foi seguir carreira acadêmica, fazer mestrado, fazer doutorado, mas no decorrer dos períodos da universidade, eu fui notando algumas diferenças. Acredito que vocês também possam ter notado entre os professores que passaram pela prática e os professores que saíram da graduação direto para o mestrado, sem poder passar pela prática e eu não estou dizendo que os professores que não passaram pela prática, foram professores ruins, não, longe disso.
O que eu notei foi que os professores, que passaram um tempo na prática clínica, prática hospitalar em UBS, seja lá qual for a área, eram professores que conseguiam, com mais facilidade, correlacionar tanto a teoria como a prática e deixar um conteúdo bem mais leve de se entender.
Então, no caso, essa tua decisão de querer fazer a residência, foi no caso, para melhorar tua vivência e no caso mais na frente, seguir uma carreira acadêmica na docência, não é? E melhorar essa tua qualidade na docência?
Isso exatamente. Não que, se por caminhos aí da vida eu passar no concurso, eu vou continuar na assistência, mas a minha intenção hoje é seguir carreira docente. Eu comecei a pensar na residência, em querer fazer residência lá por volta do quinto, sexto período da faculdade. Que inclusive eu estava em período de pandemia, a gente estava vivendo uma pandemia.
Então eu comecei a pesquisar, comecei a ler de forma mais detalhada os editais de residência de Pernambuco e eu notei que ainda tinha tempo de conseguir uma boa pontuação no currículo, como você bem falou e a partir daí eu comecei a escrever artigos, já estava tendo uma aula de forma remota e com mais tempo livre, quando comparado às aulas presenciais. Conseguir ainda no quinto período, publicar a quantidade de artigos que a residência, ela precisa. Já consegui ter uma pontuação máxima nesse quesito e comecei a escrever um projeto de iniciação científica que foi aceito, foi desenvolvido assim que voltou para o presencial.
E nesse período ainda de pandemia, que eu acho que a gente passou um ano e meio mais ou menos no remoto. Eu entrei num projeto de extensão que foi o projeto adolescer. Entrei para monitoria de DIC (Doenças Infectocontagiosas) e fiz algumas publicações de resumos em anais nacionais, internacionais que alguns editais eles consideram muito e além disso eu fiz alguns cursos, minicursos também, que pontuava em alguns editais específicos.
E quando eu voltei para o sexto semestre da faculdade eu passei um ano focando no PIBIC. E eu fiz do meu PIBIC o meu TCC, para não ter dois trabalhos. E quando eu cheguei no nono semestre decidi, literalmente sentar e estudar os conteúdos que são mais cobrados nas provas.
Eu fui, montei um cronograma de estudo e fui todos os dias estudando conteúdos diferentes, um pouco de cada vez. E já falando devido à falta de dinheiro, eu precisei optar por um curso, que abrangesse o que eu mais possuía de dificuldade. Tem vários cursos que ajudam muito a pessoa que está na graduação a entrar numa residência, então eu precisei escolher um caminho. Ver o conteúdo que eu tinha muita dificuldade, na universidade eu vi pouquíssimo sobre legislação de SUS, vi pouquíssimo sobre Políticas Públicas. Então eu acabei pagando um curso que era intensivão dos conteúdos de SUS e Saúde Pública. Não sei nem se pode falar aqui já que não está patrocinando.
Eu já ia perguntar isso para tu, visse.
Patrocina, nós aí.
Essa questão a gente vê muito no começo do período, não é? Então a gente não dá muito valor só no final, que eu acho que a pessoa começa a pesar e procurar cursinhos assim, neste tipo, que ajuda a gente nessa área, não é? Mas no caso tu conseguiu toda essa pontuação para residência? Ou ficou faltando alguma coisa para tu?
Rapaz de cem pontos, que a residência ela cobra no currículo eu conseguir pontuar noventa e cinco, então a única coisa que eu não consegui pontuar foi em um projeto de pesquisa, eu precisava de três e eu só tinha dois, então eu perdi cinco pontos, mas isso ajuda bastante, bastante mesmo.
A galera tem muita essa ideia de que o currículo ele serve como desempate, mas eu não vejo dessa forma. Além de servir como desempate, ele dá um “up” muito grande na nota, se a sua pontuação no currículo for boa e foi inclusive o que aconteceu comigo.
Ele serve basicamente como fator determinante no final das contas, não é?
Isso, exatamente.
Pelo menos na minha sala. No quarto período a gente já pensa muito nisso, tipo, o que tiver de monitoria, está todo mundo fazendo prova. Congresso, a gente está lá para publicar trabalho, essas coisas. Então acho que é muito importante, não é?
O que aparecer para fazer, faça. Eu participei até de uma empresa Júnior que nunca pontuou na residência que não pontua em mestrado, mas eu estava lá participando porque um dia, se precisar, está lá no currículo.
Jean inclusive participou da **** não foi Jean? Comigo inclusive.
Mas muito massa, até muito legal mostrar esse prisma, porque como Carol estava dizendo, ela está no quarto período e o pessoal da sala dela e ela também tem essa visão e eu no quarto período eu não tinha essa visão, quinto período como tu falou não tinha essa visão, também peguei essa questão da pandemia também, bastante. E eu vim acordar entre aspas mais recentemente, muita coisa realmente eu deixei de pontuar, estou deixando de pontuar, vou sair da graduação, sem conseguir a pontuação, porque realmente eu demorei um pouco ou muito para acordar. Mas que quando você tem realmente essa visão. Quanto mais cedo, melhor.
Isso é justamente essa ideia de fazer seu currículo na universidade, enquanto você tem tempo.
Exatamente. E é aquele rolê, o quanto antes você começar melhor. Até porque projeto de pesquisa, por exemplo, você vai desenvolver um PIBIC, é no mínimo um ano. É residência, pelo menos a SES aqui de Pernambuco, ele pede três projetos de pesquisa. Então você tem que ter três anos de cinco anos da graduação só para pesquisa.
Então isso complica um pouquinho.
Mas assim, quando foi e como foi que tu decidiu que queria saúde da criança?
Vê, essa pergunta é um pouco complicada, é complexa e também um pouco delicada, mas vê só.
Na verdade, eu decidi escolher, saúde da criança na mesma época que eu escolhi fazer enfermagem. Aos 12 anos de idade, eu fui diagnosticado com diabetes mellitus tipo 1 e precisei ficar internado num hospital de referência em pediatria no IMIP. Fiquei internado cerca de um mês e nesse mês eu acabei de certa forma, me apaixonando pela área da saúde e mais especificamente, pela enfermagem. Nunca quis medicina e além da enfermagem em si eu me apaixonei pelo setor da pediatria, que eu fiquei.
Então, uma situação na qual eu poderia criar repulsa e acabar odiando a área da saúde. Eu fiz o contrário, eu acabei gostando bastante até decidir seguir e eu estava pensando sobre isso, esses dias. Essa situação positiva acontecer, reflete muito no tratamento que os enfermeiros do setor tiveram comigo e já trazendo a ideia de que a enfermagem, ela sempre vai carregar esse peso, de ser uma profissão humanizada e um profissão acolhedora.
Eu tinha 12 anos de idade, não tinha noção de nada da vida. Mas aquela vontade de ser enfermeiro ficou ali guardada, até ressurgir no ano que eu fiz o Enem e estava no ensino médio.
Cara massa, isso. Porque, tudo que tinha para gerar um trauma nele, gerou essa vontade de seguir nessa carreira, não é?
Uma situação assim, como tu falou meio delicada de fato e acabou te despertando para seguir tua carreira. É muito massa até a gente saber isso, porque, a gente já tinha conversado sobre essas questões, mas tu nunca tinha nem falado dessa vivência, eu acho uma coisa muito nobre da tua parte ter escolhido o curso a partir disso.
Mas pronto. Tu falou como tu escolheu, a questão da residência e tal. Mas e aí, como é que estão sendo esses primeiros dias como residente de fato, como é que está sendo a rotina? Como é que está sendo, viver em um lugar longe? Porque tu é de Limoeiro, não é? E está agora em Petrolina. Como é que está sendo essa tua questão, esse teu começo na residência?
Rapaz, resumindo, assim, de forma bem abrangente, está sendo extremamente cansativo. Sério. A rotina é muito puxada e a quantidade de conteúdo para estudar, extrapola o que eu já esperava que ia ter.
Mas em contrapartida, está sendo muito gratificante, tudo que eu estou aprendendo. De início, foi bem difícil me adaptar a uma cidade totalmente diferente da minha, a uma distância totalmente longe do meu cotidiano, do meu ambiente, a minha família, minha namorada, enfim.
Então no início foi bem complicado. Eu, já cheguei em Petrolina, já pisei em Petrolina querendo voltar para casa. Mas o que tem me ajudado muito, o que me ajudou muito foi as amizades. Está sendo as amizades que eu estou fazendo aqui. As minhas R2, elas fizeram um acolhimento muito bom, apresentaram a cidade para gente. Tentaram fazer com que a gente estivesse mais tranquilo e acolhido num local que não é o que a gente está acostumado a viver. Inclusive, a maioria das pessoas que estão na residência aqui são de longe. Tem gente do Piauí, tem gente do Rio Grande do Norte, tem gente de Sergipe. Então, praticamente todo mundo está passando pela mesma coisa, então é aquele rolê, ninguém solta a mão de ninguém.
E como é o nome do teu hospital Jean?
É o Hospital Dom Malan. É um hospital de referência aqui no Vale do São Francisco. É um hospital materno infantil, é um hospital clínico, recebe muita abordagem clínica e ele é referência e se eu não me engano, ele é o primeiro hospital do Brasil, que abrange dois estados, aqui, por ser divisa com a Bahia, a gente pega muitos pacientes da Bahia e da região aqui do Sertão de Pernambuco. Eu acho que são mais de cinquenta municípios.
Tu tem tipo quantos “Rs” iguais, assim que tu tem?
Eu tenho duas R2, porque a terceira fez uma transferência e tenho duas “Rs” iguais. No caso, são três R1 e duas R2 em pediatria, o pessoal de obstetrícia tem mais residentes.
Ah, pronto, beleza.
E aí falando sobre a rotina, que vocês perguntaram.
Sim, sim.
A rotina em si daqui é bem cansativa, como eu já falei, a gente tem que dar 60 horas semanais. Como o edital fala e a gente literalmente cumpre essas 60 horas semanais aqui.
Eu vou de segunda a quinta do plantão de dez horas. Então eu chego de 07:00 horas da manhã e saio às 17:00 da tarde. A gente tem um tempo para o almoço e a gente pode tirar uma hora de descanso. Então, durante esse um dia, a gente pode tirar uma hora de descanso.
Na sexta-feira, a gente tem a parte teórica na parte da manhã e à tarde a gente tem um tempo voltado para o TCR. Que a gente pensa que se livrou do TCC, mas vem à residência e coloca o TCR para você produzir.
Pois é, e aí, além de trabalhar durante a semana, a gente tem que dar três plantões extras, plantões complementares para poder completar essa carga horária de 60 horas, então de quatro finais de semanas que o mês tem, três no caso, ou um sábado ou domingo, eu tenho que dar um plantão de 12, por exemplo, essa semana eu fiquei de segunda a quinta. Hoje que é sexta-feira, tive teoria pela manhã, agora à tarde, eu estou livre e amanhã eu vou precisar dar um plantão de 12 horas, para poder completar.
A gente basicamente tem um final de semana livre durante um mês no R1, no R2 a gente tem dois, diminui.
Aí no caso nesse período, tu nem tem como voltar, não é? Para cá, para tipo passar o final de semana, fica apertado para tu, não é?
Fica, além de ficar apertado com relação a tempo, fica apertado com relação a dinheiro também, porque passagem daqui para lá é muito caro. Passagem de avião, obviamente, é mais caro, mas é mais conveniente para me adaptar em relação ao horário. É uma hora de distância de avião e doze de ônibus. Então, não quer dizer que a gente não vá visitar a família assim, dá para ir visitar a família.
Aqui a gente tem uma forma de trabalhar um pouco diferente, por exemplo: “eu pretendo ir visitar minha família no dia das mães”, então eu já comunico antes com o pessoal, quando a gente for montar a escala, que é aquela escala do final de semana eu já digo: “ó, nesse final de semana que eu quero estar livre”, então uma das minhas Rs iguais vai trabalhar nesse final de semana, meio que troca de plantão. Vai trabalhar nesse final de semana, eu vou estar livre e se quiser, eu posso faltar, um, dois, três dias e depois em feriado ou sei lá, em algum outro final de semana livre, eu posso pagar esse dia que eu faltei. Então é complicado, mas no apertado, dá para ir visitar.
Massa, o importante é isso, não é?
Oh Jean, sobre a neonatologia, o que é que tu tá achando assim?
Essa semana a gente passou lá no HC, passou pela parte de UTI e neonato. Todo mundo ficou super apaixonado, porque é um ambiente muito massa, passa uma sensação de ambiente controlado e é assim mesmo ou a gente fica meio que romantizando isso? Porque tudo no recém-nascido é mais difícil, não é? Então, acho que tem muito essa visão romântica. Quer que tu tá achando?
Mas essa pergunta foi bem profunda, mas é basicamente isso. Eu particularmente, eu nunca tive contato com a neonatologia durante a universidade. A única coisa que eu fiz, assim como vocês foi, dá uma passadinha no setor da neo e vê lá os bebês, dá um tchau e ir embora. Nunca cheguei para estagiar, para fazer algum procedimento, nunca.
E quando eu cheguei aqui, eu sabia que eu iria precisar rodar na neo, porque faz parte da pediatria. Mas no meu primeiro dia, que foi o dia do acolhimento, eu descobri que o meu primeiro rodízio seria na neonatologia. E eu fiquei bem assustado porque começaria logo no dia posterior, ou seja, não daria tempo nem de estudar nada sobre o conteúdo, sobre o mundo que é a neonatologia, a gente pensa que não, mas a neonatologia é um mundo extremamente grande de conteúdos para estudar, mas já estou na terceira semana no setor e já posso afirmar que eu nunca imaginei gostar tanto da neonatologia, como eu estou gostando agora.
Os primeiros dias realmente foi um choque, um choque muito grande para mim, que saí da graduação direto para a residência, até cair a real que eu era um profissional já formado e respondia pelos meus erros, foi bem demorado. Passei um bom tempo achando que eu ainda era estagiário da graduação.
Agora meu COREN pode rodar, você repensou assim?
Exatamente, mas já estou acostumado com a rotina, com o setor, com os profissionais do setor, já consigo realizar as tarefas e os procedimentos que um enfermeiro realiza cotidianamente, sem precisar de nenhum suporte, porque no início eu corria para a enfermeira. Tem esse procedimento aqui, “vem cá me ajudar que eu não sei não”. Mas hoje eu já consigo desenvolver isso tranquilamente, consigo fazer tudo sozinho, praticamente.
Lá no setor, a gente tem uma enfermeira e eu acabo sendo um segundo enfermeiro do setor, e a gente divide os pacientes, ela fica responsável pela metade, eu fico pela outra metade e a gente fica até o final do plantão com esses pacientes. Então, tudo o que acontecer, sei lá, intercorrência, procedimento, a gente acaba prestando a assistência.
Acho que isso é muito uma sensação do R1, não é? De tipo, caramba, chegar aqui, não sei de nada e agora chama a enfermeira?
Exatamente.
E até o cara se dar conta, de que o enfermeiro sou eu. Tem que chamar ninguém não, vão me chamar.
E sobre a questão que você falou, sobre a sensação de paz e de tranquilidade que a neonatologia atrás realmente traz muita sensação de paz, porém depende. Tem dias que, sei lá, um bebê começa a chorar e o do lado começa a chorar e o outro começa a chorar, eles começam a se comunicar entre si e é choro constante sem parar, sabe?
Meu Deus.
Sem brincadeira, certa forma, mas tem situações complicadas, sim. Tem situações que ocorrem, intercorrência e tudo mais que são situações pesadas que precisa ter uma resposta rápida, mas na maior parte do tempo é um setor tranquilo. Que traz paz.
Ah que massa. Eu gostei muito, visse. Quando eu passei lá, eu fiz, cara, eu ficaria muito aqui, “vei”. Só que não tinha nenhum chorando, então.
Você se adapta com a neo até você ir dormir e acordar de madrugada, ouvindo um choro. Só que no seu apartamento não tem nenhum bebê.
Misericórdia, menino.
Pois é, enfim, coisas que ficam na cabeça.
Sim, veja. A gente falou tanto sobre essas questões e tal, de “ah sai de Limoeiro ir para Petrolina”. A gente até estava conversando um pouco antes aqui da gente, começar a gravar, sobre essas questões financeiras mas e a bolsa? Como é que está sendo? está dando para se manter?
Assim a gente até já sabe a resposta, mas gostaria que até você falasse e assim, a gente acaba que sai da casa dos pais da gente e a gente leva essa insegurança, incerteza da gente pegar e pensar, rapaz, será que eu vou conseguir? Apesar que quando a gente está morando, está fazendo faculdade, a gente está fazendo a graduação, a gente sai da casa dos pais da gente realmente e passa a morar em outra cidade, assim como a gente está passando por isso, mas que agora realmente caiu essa ficha e dizer, “eita, agora eu já sou um profissional formado e eu realmente estou indo para uma cidade lá longe e como é que eu vou me virar? Agora tá mais difícil de certa forma”. Mas como é que tu tá fazendo? Para se manter basicamente, não é?
Rapaz, eu ri aqui, mas foi um riso de nervoso.
Ó, é verdade, mas deixa eu te contar. Vamos lá que já vem história. A bolsa, seja uma bolsa muito boa. O valor é muito bom. Sempre acontece de atrasar, no início da residência, e eu já deixo como dica para a galera, se organize financeiramente, se você for querer fazer residência, se organize financeiramente antes para poder se manter no primeiro mês no lugar que você vai morar, porque não façam como eu, que não me organizei, e estou passando por uns maus bocados agora.
Então, basicamente a bolsa da residência, ela cai. Mas depende de programa para programa, o meu é pelas SES aqui de Pernambuco, então a gente trabalha um mês e recebe em abril. A primeira bolsa, ela atrasa um pouco, então vai atrasar em uns dez, quinze dias, pelo que eu fiquei sabendo. Mas, após isso, continua recebendo tranquilamente num atrasa, sempre cai certinho.
Mas o primeiro mês realmente é perrengue para vim e é complicado, a gente não tem mais para onde correr, um colo para correr quando eu for precisar chorar.
É exatamente isso. E quando eu morava em Vitória, que era uma hora de Limoeiro. Sei lá, um final de semana quando eu não estava me sentindo bem, eu voltava para casa, eu ficava com a minha família, saía com os meus amigos, com meus primos e tudo mais e tudo se resolvia.
Aqui está sendo diferente, mas é aquela coisa para a gente poder ter um futuro bom, querer ter um futuro bom, a gente tem que ter renúncias de certa forma e essas renúncias podem doer. Então, é sobre isso. Tem que aprender a se adaptar, porque se não conseguir, você não vai conseguir manter esse rojão.
De fato.
É isso.
Como é que tu tem lidado com os dilemas e as situações complicadas que estão aparecendo? Tu estava preparado? Tinha uma noção de que ia acontecer essas coisas ou foi uma surpresa para tu?
Carol, para ser sincero, tem sido bem complicado. Infelizmente, a universidade, ela não prepara você, pelo menos não me preparou para saber lidar com situações difíceis e situações complicadas. Só para você ter uma noção. O meu primeiro dia como residente foi um dia bem louco, um dia bem difícil. Eu cheguei no setor de 07:00 horas da manhã para poder me apresentar, pegar a passagem de plantão e basicamente, só deu tempo de colocar o jaleco. Eu nem tive tempo de conhecer o setor e me situar e nem saber onde fica cada equipamento, material.
Enfim, um RN, começou a intercorrer, teve bradicardia, teve queda de saturação e depois chegou a ter uma parada cardiorrespiratória, uma PCR. Foi necessário realizar a intubação, iniciar o protocolo de RCP, essa RN, ela voltou, levamos para um setor mais específico. Como falei para vocês, anteriormente, eu não faço parte de um setor intensivo, então a gente precisou levá-la para um setor mais específico, em cuidados intensivos.
E no decorrer do dia, ela teve mais duas PCR e acabou vindo a óbito. Então, para mim, que já estava chegando no meu primeiro plantão como profissional. Foi bem impactante. Eu sabia e eu tinha essa noção de que iria ter que lidar um dia com esse processo de morte, com a morte em si, só que eu não esperava que isso fosse acontecer logo no meu primeiro dia. Então foi um choque para mim, que inclusive foi um pouco difícil de superar.
Além dessa situação, nesses primeiros dias também aconteceram outras situações semelhantes, uma delas foi uma RN que eu estava acompanhando fazia um tempo e que também veio a óbito devido a uma parada cardiorrespiratória. A gente como profissional, a gente se sente bem frustrado e sente uma sensação de ser incapaz, de não conseguir resolver a situação ali de imediato.
Mas querendo ou não, aprender a lidar com esse tipo de situação é importante, porque pessoas que escolhem a área da saúde vão ver isso, basicamente, o resto da vida. Então não tem para onde fugir. Situações difíceis vão acontecer e é isso que eu ressalto, quando eu falo que a universidade, ela não nos prepara para isso, a gente precisa sair da graduação sabendo lidar com esse tipo de situação, porque depois, na marra, fica mais complicado.
E já deixando; se passar, não souber lidar com esse tipo de situação, façam terapia cuidem da saúde mental de vocês para poder, de certa forma, poder cuidar de outras pessoas, porque se não você não consegue dar conta.
Assim, é bastante importante isso até que tu fala. Isso são questões que a gente vem levando, acho que desde o começo da graduação que a gente sempre tem aquela máxima que a gente fala, e aí, quem cuida de quem cuida? E ainda mais, eu imagino que essa questão mental de ser pesado, por exemplo, você está trabalhando com neonatos está trabalhando com crianças, são vidas que estão ali, no início e como tu falou, se passar por uma situação dessa, você fica pensando, “rapaz” “e aí, razão ou emoção?”. Se eu me deixar levar muito pela razão, será que não vou ficar frio? E também, se eu me deixar levar muito pela emoção, será que eu também não vou me afetar muito com situações que aconteçam.
Então eu acho que é bem complicado essa questão. Pelo menos assim, segundo o teu relato e segundo outros relatos, também que eu já escutei, enfim, mas eu acho que pelo menos o que tu falou é uma coisa realmente muito importante da gente se cuidar, para poder cuidar do outro, porque tem muito disso da gente, na graduação também a gente está deixando de lado a saúde da gente para estar cuidando da saúde do outro. Mas e aí? E quando a gente não estiver bem? Como é que a gente vai fazer? A gente não vai poder nem cuidar da gente, nem do outro.
Então, é meio *** isso aí.
É isso, ainda tem toda essa questão de ser um recém-nascido, não é? Como é que a pessoa fica? Porque acho que todos os procedimentos são até mais difíceis de se fazer no RN, então é deixar um pedacinho da sua bolsa para terapia, não é? Para poder lidar com todos esses dilemas. Eu acho que é difícil, a gente nunca vai se acostumar, mas tipo, meio que tem que esperar que essas coisas aconteçam mesmo, tipo não tem como você controlar tudo.
Quando a bolsa cair.
Eu vou tirar um pouquinho para terapia.
Isso é a primeira coisa que eu vou fazer. E Carol citou até uma questão de que RN, essas coisas são mais simples e mais delicadas de se fazer, isso é muito real. Gente, se vocês, um dia forem trabalhar, passar pela neonatologia, vocês vão ver que tudo é muito minuciosamente pequena, então, com o procedimento que você vai fazer, se você tiver aquele tremor, “meu Deus do céu”, pode responder à saúde a vida de um recém-nascido. Até o manejo que você tem com o recém-nascido, que lá no setor a gente pega recém-nascidos prematuros extremos de vinte e cinco, vinte e seis semanas que se você não souber manejar o recém nascido em si, pode ser até fatal para ele.
Então um tem lá uma passagem de sonda, um curativo.
Até um acesso periférico mesmo, porque eu só penso nisso.
Coisas relativamente simples para a gente fazer em adultos, não é?
Isso.
Eu estou no processo de saída da neonatologia, “craque” em gasometria em RN, porque pensa num negócio difícil.
Caramba.
É complicado, mas aí quando você consegue, você fica feliz da vida.
É, eu imagino.
Mas é isso aí, Jean. A gente está chegando ao finalzinho aqui, mas tu tem alguma dica? Apesar de toda a experiência que tu passou já ser válida e assim eu levo como dica, basicamente, mas tem alguma outra dica que tu quer dar? Que tu acha válido citar? Para pessoas como nós mesmo aqui que está te entrevistando e pretendem seguir residência. Algum “bizu”? Passar o “bizu”, aí para nós.
Especialmente para quem está no quarto período.
Passar a fórmula do bolo para vocês.
É isso aí, é.
Vê só, o que eu tenho como dica, que inclusive acho que é a mais importante que se eu pudesse voltar no passado, eu falaria para mim mesmo é se organize. Se organize o quanto antes, faça um cronograma de estudo, vejam quais conteúdos você tem mais dificuldade para priorizar esses conteúdos e tente estudar um pouquinho todo dia, nem que seja dez minutos. Ter essa regularidade ajuda muito a não perder o foco. Uma outra dica importante também, é que escolham o quanto antes o programa que você vai querer fazer, se é pediatria, se é emergência, se é obstetricia, até mesmo qual programa nível de residência, se é a Enare, se é a SES Pernambuco, se é a SES da Paraíba. Porque você precisa começar a montar o seu currículo em cima desse programa. Por mais que como eu falei anteriormente, o currículo ele tenha um peso menor, um peso de 20%, um peso de 10% em alguns programas, um currículo bom, ajuda bastante na hora do desempate e inclusive me ajudou bastante.
Eu estava fazendo uns cálculos e se não fosse o meu currículo, eu não teria conseguido entrar apenas com a nota da prova, por exemplo, eu pontuei noventa e cinco, mas eu acho que se eu tivesse pontuado setenta e cinco, oitenta, talvez eu não conseguisse entrar.
Caramba.
E Jean.
Então é aquela coisa, não negligencie o currículo. Se vocês puderem, façam, porém como o Matheus falou, se tiverem no final da graduação e não está com o currículo bom, estude, estude que a prova é decisiva também. Estude que 80% da nota é da prova. Uma das minhas Rs iguais ela não tem um currículo bom e ela se garantiu na prova e está junto comigo, a gente está ocupando a mesma cadeira praticamente. Então é aquela coisa, se você tem tempo, se você consegue ainda fazer isso na graduação, faça, mas se não tem, se dedique ainda mais aos conteúdos.
Caramba, massa. Só mais uma pergunta Jean. Qual foi o cursinho que tu usou?
Ver só, como a minha maior dificuldade era em SUS e Políticas Públicas. Eu fiz o cursinho do SUS na veia, que é com o professor Helder Pacheco muito bom, inclusive, e além dele, eu também fiz o do Rômulo Passos, que é aquele livrinho lá do SUS que me ajudou bastante também. E aí, se você tem condições, pague outros cursinhos específicos e se não tem, faça como eu, vá para livro, vá para YouTube, bota vídeo aula no YouTube e anota, escreve e dá certo, sempre tem um caminho que dá certo.
E por fim, continuando falando sobre as dicas, uma última dica, que não é uma dica menos importante, cuide da sua saúde mental, não viva apenas para estudar para residência.
Durante a minha graduação, eu vi pessoas viver em prol da residência. Estudando para residência, só vivia de residência, via outras pessoas também fazerem isso, que às vezes não conseguiam, ficavam tão ansiosas que na hora da prova não conseguiu responder a prova por mais que tinha uma bagagem de conteúdo. Então, não vivam apenas para estudar para residência, saia com os amigos, vá para o cinema, assista uma série, tome uma cachacinha. Faça as coisas que você gosta, priorize a sua saúde mental. Não adianta passar na residência e não ter a saúde mental para suportar o corre que ela é.
Viva, basicamente. Assim, aproveite a época da graduação, não é? “Bicho”, que é uma época muito boa.
A gente está passando por isso. A gente vê como é. Assim, tem seus percalços, claro. Mas eu imagino que se a gente souber aproveitar direitinho, a gente não sai tão sequelado.
É, dá para viver muita coisa massa, na universidade também.
Aí também dá para viver na residência. Por mais que a gente tenha uma rotina bem pesada, eu, junto com as minhas residentes lá com as R2 e com as Rs iguais, a gente tem uma meta de toda semana sair, nem que seja ir na casa de uma pessoa para conversar, para jogar Uno, para sei lá e ali na praça conversar. Porque se não, a gente fica saturado e acaba tendo um burnout e não sabe como é que aconteceu.
É, de fato.
Tem muito isso.
Oi, Jean. Então muito obrigada por responder essas perguntas aqui com a gente. Acho que sanou muita dúvida da galera, pelo menos as minhas, aqui como estudante do quarto período, ansiosa para terminar, mas tipo indo de passinho em passinho, foi muito bom conversar contigo. Valeu, visse?
Obrigadão, Jean, valeu mesmo. Você que é um parceiro, sempre está à disposição mesmo em Petrolina. E eu inclusive, “bora? Tal. Oxê na hora vei”.
Sinta-se à vontade quando você quiser vir, as portas estão abertas e muito obrigado mesmo por aceitar, por estar disponível para nós, para a gente.
Então, para vocês que escutaram até agora, pessoal, muito obrigado também.
Pode agradecer. desculpa.
E já citando o grande filósofo Wesley Safadão, não me chame não, que eu vou, viu Mateus?
Eu vou mesmo.
Mas é isso. Eu também gostaria de agradecer a oportunidade por ter me chamado. Foi muito massa conversar com vocês e trazer esses esclarecimentos. Principalmente trazer isso para um projeto da minha universidade de origem. O CAV sempre vai estar no meu coração para o resto da vida.
Exatamente. E assim é uma coisa até que a gente tentava fazer isso lá atrás e agora a gente está conseguindo botar em prática.
Mas é isso, a você que ficou até aqui, como eu estava dizendo muito obrigado, pessoal. Assistam os outros episódios anteriores. A gente tem muita coisa legal com outros profissionais, com professores. A gente vai trazer mais ex-alunos do CAV e mais alunos.
Então a gente está com esse projeto agora, com essa série de enfermagem e suas profissões, então também dêem idéias, façam perguntas. No episódio, quando você arrasta para cima, aparece uma caixinha de perguntas, você pode entrar em contato com a gente por lá também. Entrem em contato com o Jean também, que o Jean é bem solícito. Se quiser deixar o Instagram também, Jean, pode falar.
Bota aí que eu vou seguir, estou seguindo todos. Todos os convidados, eu estou seguindo, eu quero saber tudo o que está rolando.
Eu tenho o instagram pessoal mas eu tenho Instagram profissional. O meu instagram profissional é ****. Eu estou um pouco parado, mas eu vou voltar. Vou tentar mostrar a rotina da residência, mostrar o conteúdo e tudo mais, então podem seguir a vontade.
Bora voltar aí não é?
E no mais, fiquem ligados nos próximos episódios também, todas as sextas-feiras estamos aqui no Spotify, nos seus tocadores preferidos.
E um forte abraço pessoal. Tchau, tchau.
Tchau, galera.
Cheiro, se cuida.
Até mais.
Episódio: Residência
Apresentação: Matheus Sales e Karol Rocha
Convidado: Jean Alves
Roteiro: Matheus Sales
Gravação: Matheus Sales
Edição: Maria Eduarda Ferreira
Coordenação: Luiz Miguel Picelli Sanches
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