Podcast – [Metaverso da Saúde] Boate Kiss
[Metaverso da Saúde] Boate Kiss
No episódio de hoje, Karol, Mayra e Vivianne conversam um pouco sobre o tema “Boate Kiss”, esse tema tão polêmico que voltou à tona recentemente após a produção de documentários e séries contando um pouco sobre a tragédia que aconteceu há 10 anos na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.

O que você estava fazendo no dia 27 de janeiro de 2013?
Oi galera, sejam bem-vindos a mais um episódio do podcast Metaverso da Saúde, um podcast do contêiner saúde que é vinculado ao Centro Acadêmico de Vitória da Universidade Federal de Pernambuco, idealizado e orientado pelo professor Luís Miguel, eu sou Viviane e estarei com vocês hoje para conversar sobre mais um tema.
Oi galera, meu nome é Carol e também vou estar aqui comentando com vocês.
Oi gente, meu nome é Mayra e eu vou participar também hoje.
Então galera, no dia 27 de janeiro essa tragédia completou 10 anos e foi uma tragédia que marcou muito, pelo menos no meu tempo eu estava no segundo ano do ensino médio e eu lembro até hoje dessa tragédia e como a gente sabe, foram 242 mortos e 636 feridos.
Então, essa tragédia da Boate Kiss foi a segunda maior tragédia do Brasil, só perdeu para a tragédia de um circo, o Gran Circus norte- americano, que ocorreu lá nos anos 60 que matou em torno de 500 pessoas, mas como eu falei foi a segunda maior tragédia relacionada a incêndios no país.
Como Carol falou, eu tinha 14 anos na época e eu estava nas férias do ensino fundamental e eu acordei pela manhã com essa notícia e pra mim que tinha apenas 14 anos foi extremamente impactante, imaginem para quem é familiar, parente de alguém que estava nesse meio.
É bem difícil mesmo.
Pois é, e aproveitando esse contexto a Netflix lançou uma série sobre esse tema, não sei se vocês viram, mas o nome da série é “Todo Dia a Mesma Noite”. Ela usou todo o enredo dessa tragédia e fez essa série e ela está sendo bem criticada, muitos criticam e outros não criticam, apoiam a série para que essa tragédia não se repita, eu assisti, mas eu achei muito forte não consegui terminar, não sei se vocês viram.
Eu soube, mas eu não assisti porque eu já tinha visto apenas dois capítulos do documentário que está na Globoplay que também tem, e eu fiquei extremamente abalada e não consegui mais assistir nenhum.
Eu não cheguei a assistir nem a série nem o documentário, estão na minha lista e pretendo assistir ainda essa semana, mas eu cheguei a ouvir um podcast sobre o tema e assim gente, chorei sério, até fiquei nervosa, porque é muito difícil, você ouve a descrição de como ocorreram os fatos e é algo muito, muito pesado, tipo você morrer dessa forma e tudo mais.
Pois é, tem vários relatos de algumas vítimas e têm uma vítima até que deu entrevista falando do caso dela, como foi que ela estava na frente do bar e quando ocorreu tudo foi muito rápido, ela simplesmente começou a correr em busca da porta, porta essa que ela nem achou, porque estava tudo escuro, quando começou o incêndio tudo ficou sem energia e tal e ela caiu no chão e muitas pessoas caíram em cima dela, então ela ficou ali muito tempo e o relato dela também é muito chocante, porque ela disse que começou a rezar em busca de um conforto, de uma ajuda e ela pensou que não ia sair dessa, ela se perdeu das amigas e o caso dela foi triste porque além de passar por toda essa situação, ela perdeu uma perna, então o trauma dela é bem…
Essa é a moça que perdeu a perna porque a sandália ficou agarrada no pé se eu não me engano ou algo do tipo.
Ficou preso ao tornozelo no caso, mas acho que foi devido ao material.
Isso, e as pessoas caíram em cima dela e tipo estava muito quente.
E o incêndio ficou nessa de tipo a maioria das pessoas morreram pelos gases tóxicos que tinha na espuma da boate, que inclusive foi reprovada pelo corpo de bombeiros depois, porque antes ela tinha sido aprovada, tem toda essa problemática também.
A gente vai tratar direitinho disso, mas vimos que foi assim um esquema, porque não era pra ter sido aprovado. A gente falou, falou, falou e esquecemos realmente de dar introdução ao caso, acho que todo mundo ouviu falar, mas como Carol estava dizendo, foi no dia 27 de janeiro de 2013 em torno das 3:00 da manhã, a banda Gurizada Fandangueira estava se apresentando na boate e soltou um fogos de artifício no palco, coisa que não deveria, e parece que o palco tinha passado por uma reforma recente e estava com 2 m e o teto era bem próximo
Na verdade, os fogos que ele soltou eram propícios para o meio externo e não para o interior de um ambiente fechado que no caso era a boate e neste evento ele ficou muito próximo a espuma e a espuma também que não era adequada, então há dois culpados na verdade, a banda e o dono da boate.
E ainda tem a questão de saídas de emergência que não tinha.
E isso até se propaga mais do que quem foi o culpado, acaba sendo bem complexo. No julgamento eu cheguei a ver também que o vendedor de fogos foi acusado também e ele disse que chegou a oferecer para o rapaz da banda o fogos de fogo frio que o pessoal chama, que poderia soltar dentro, diz ele que ofereceu só que o integrante da banda não quis comprar porque o valor era $75,00 ou $65,00, algo assim, e ele ainda deixava por 50, só que esse outro que ele comprou foi a $3,00 então ele levou outro..
Inclusive isso causou grande revolta entre os familiares e não é para pouco, porque na série mesmo eles comentam que a vida de cada filho, de cada vítima custou 20 centavos, foi isso, eles perderam os filhos por 20 centavos, isso é muito chocante, eu chorei horrores.
Dando continuidade, eles soltaram os fogos de artifício e logo no início eles não perceberam, em dado momento quando um dos participantes ali da banda olhou para o teto, viu que estava pegando fogo e tentaram apagar o fogo jogando água, só que isso é algo também que foi bem debatido, porque quando alguém vê um princípio de fogo, pensa logo, vamos jogar água, só que não é todo o fogo se apaga com água e era o caso desse a água só aumentou as chamas, e eles foram atrás do extintor de incêndio, mas estava vazio o extintor quando começaram a tentar apagar o fogo, porque dias antes um dos funcionários da boate usou este extintor de incêndio para fazer uma “brincadeirinha”, digamos assim, no aniversário de uma amiga conhecida, então ele usou colocou lá no lugar de volta, disse “Ah vai ser trocado mesmo”, que já estava no tempo de trocar o extintor, mas não foi recarregado, então teve também esse fator, são muitos fatores péssimos.
Tem também a questão da portaria da festa, porque quando começou o incêndio, a boate não aparenta ser grande, mas ela é muito grande, então algumas pessoas não entenderam o que estava acontecendo, muitas pensavam que era briga, então esses porteiros também tiveram uma influência muito grande na morte dessas pessoas, porque eles simplesmente não deixaram as pessoas sair sem a comanda paga e isso é uma frase bem forte na série, porque eles falam em alto e bom som, “sem comanda você não sai” e tipo, muita gente começa a cair na saída mesmo e morrer ali mesmo porque a fumaça era muito forte.
Muita gente morreu pisoteada.
E eles começaram a cair ali mesmo na saída e sem ter força para se levantar.
Inclusive, não sei se vocês viram, mas na época do governo do Michel Temer, devido a esse caso da boate Kiss, estavam querendo colocar pra frente uma legislação que impedisse essa questão da comanda magnética, que eles chamam, porque no caso você chega na boate, no bar, seja onde for e você pega esse cartão, como se fosse um cartão de crédito para quem nunca foi a gente tá aqui explicando, então você toda vez que for consumir qualquer coisa na boate, no bar do estabelecimento em si, eles passam esse cartãozinho, digamos assim, e quando você sai é que faz o pagamento, então essa é a questão. Acabou que o Michel Temer não autorizou isso, então hoje em dia a gente vê muito por aí que ainda continua sendo nesse mesmo esquema de comanda, que você só paga quando sai e só sai quando paga.
Mas teve uma coisa muito importante que logo após essa tragédia eu lembro que muitos estabelecimentos começaram a passar por reforma, porque muitos não tinham uma saída de emergência e isso faria totalmente a diferença num lugar que tinha quase 1000 pessoas e não tinha uma segunda porta para sair.
Tem a questão do pessoal ter ido para os banheiros também tentando achar uma saída e quando chegaram lá as janelas também estavam tapadas por causa da saída de som, essa parte ainda consegui ver, que a vizinhança estava reclamando muito por causa da saída de som que incomodava durante a noite já tinha recebido bastante denúncia, aí os donos para “resolver” o problema colocaram essas espumas também nas janelas dos banheiros.
Tem mais um detalhe que eu vi, a galera correu pro banheiro por que quando começou esse incêndio houve um curto-circuito e ficou sem energia, então o que Carol falou da galera de longe não sabia o que estava acontecendo, assim era um lugar relativamente grande, porque eu vi que a capacidade era em torno de 600 pessoas que cabiam lá, mas os dados variam e tem dados que dizem que é em torno de 1000, tem dados que dizem que foram quase 1500, mas assim está bem acima da capacidade, aí a galera começou a ir pro banheiro porque foi o único lugar que ainda estava com energia e o pessoal pensou que era a saída.
E na série retrata bem isso, você fica super triste, eu me arrepiava todinha e chorava, não sabia se chorava se prestava atenção. Então, como eu estava falando, muitas pessoas morreram ali na frente da saída, porque só tinha aquela porta mesmo e teve a questão dos seguranças prenderem essas pessoas para elas pagarem a comanda, sendo que estava pegando fogo e eles nem ao menos escutavam o que as pessoas estavam falando.
É porque lá também não tinha rádio de comunicação entre os seguranças de fora com os seguranças de dentro, então eles fora também não sabia o que estava acontecendo, então assim gente foi problema para todo lado e inclusive para vocês entenderem, muita gente pensa que o pessoal morreu só pisoteado ou então incendiado, mas não foi, esse material que usaram era poliuretano e quando ele entrou em combustão ele começou a liberar cianeto e esse gás cianeto, pra vocês terem noção, é o que usavam lá na câmara de gás dos nazistas, ele mata muito rápido, então o pessoal que estava inalando chegou a morrer dentro de 3 a 5 minutos ali dentro, então foi muito rápido, desmaiavam e ficavam corpos em cima de corpos e como as meninas já comentaram.
Isso porque o cianeto ele fica no lugar, vamos dizer assim, fica “no lugar da hemácia”, então as pessoas morrem sufocadas. Muita gente que estava na frente do palco não conseguiu chegar a metade da boate, então já caiu e morreu ali mesmo.
Eu vi até agora só um relato de uma menina que estava bem próxima ao palco e ela estava com o irmão e assim…
Eu acho que eu vi esse sim, eu vi no documentário que o irmão dela voltou pra tentar ajudar o pessoal, é esse?
Não, esse daí ela estava com o irmão e ela conseguiu, assim gente na agonia, por mais que dessem as mãos e tudo mais, no sufoco ela conseguiu sair e o irmão ficou ele não conseguiu sair também, então é uma coisa que ela até falou na época do depoimento do julgamento, que o maior arrependimento dela era esse, ter saído sem o irmão, mas também ninguém sabe se ela tivesse ficado lá ela teria saído com vida.
Pronto, o caso que eu vi foi também de dois irmãos, só que eles tinham conseguido sair os dois, mas quando ele deixou ela lá fora, ele falou pra ela que ia voltar pra tentar ajudar o pessoal que estava dentro e infelizmente ele não conseguiu sair e também chegou a falecer.
Os bombeiros inclusive foram responsabilizados de certa forma, também foram a julgamento por ter permitido que parte da população entrasse novamente na boate para ajudar no resgate. Só que naquele momento, eles estavam sem equipe, sem nada e a galera foi e eles só deixaram, só que muita gente morreu como Mayra falou, não conseguiu voltar a tempo, então também teve essa questão na parte do julgamento, na contagem das mortes, na questão da culpa, de quem é a culpa.
Teve a questão também que eles cederam alvará, foi o corpo de bombeiros que cedeu alvará para boate para que o funcionamento estivesse “OK”, então eles não checaram a espuma, eles não checaram saída de emergência, eles não checaram qual tipo de equipamento podia usar dentro da boate, então por tudo isso que o corpo de bombeiros também foi responsabilizado.
É porque esse pessoal que faz o alvará, vai lá leva uma planilha, alguma coisa do tipo e vai fazendo anotações, então tinham várias partes em branco o que dá a deduzir que essas partes não estavam “OK” e mesmo assim deram o alvará.
Pois é, inclusive na série relata que foram preenchidos depois do incêndio, essas lacunas que estavam em branco, foram preenchidas depois do incêndio, então há uma mutretagem aí.
E outra, esse negócio da fiscalização eu não sei, mas deu a entender que talvez ele soubesse um dia que a fiscalização ia lá, porque por exemplo, quando a fiscalização foi lá, o corpo de bombeiro afirma que não estava as grades da entrada que tem as grades para organizar as filas, só que isso atrapalhou muito na hora da galera sair, então não tinham essas grades, mas sempre teve essas grades lá, então será que eles retiraram só no dia da fiscalização para não verem isso?
É, são vários fatores.
Essa questão do pessoal que entrou para ajudar, teve gente também que conseguiu sair da boate, foi para o atendimento no hospital e não sobreviveu justamente por causa dessa poluição com os gases e o corpo de bombeiros ao invés deles socorrer as pessoas que saíam não, eles ainda recrutaram pessoas para entrar novamente e isso acabou tornando a tragédia maior, porque muita gente não conseguiu voltar e a série também retrata isso, estou falando muito dessa série porque ela realmente me chocou sabe, estou chocada com essa série.
E também tem um documentário que a Globoplay fez.
Que Mayra comentou.
Isso, que é um com as vítimas mesmo.
E uma coisa assim pra galera entender melhor, essa cidade não era nem a capital do Rio Grande do Sul que é Porto Alegre, foi de Santa Maria, então a cidade mais interior, cidade universitária, com bares e baladinhas, tinham acho que três faculdades lá, três universidades, só que qual era a questão, por ela ser menor, não tinha todo esse recurso, tinha até um hospital universitário lá que ocuparam todos os leitos depois da tragédia, não tinha onde colocar o pessoal. Os bombeiros foram acionados pouco tempo depois que começou o incêndio e eles chegaram lá e não tinham noção da proporção que tinha sido, e quando chegaram eles estavam com 8 ampolas de oxigênio, se não me engano, e tinha ficado 8 ampolas lá no quartel, é quartel que chama?
Isso é a central do corpo de bombeiros.
Pronto, porque eles saíram com o carro e ficaram lá 8 ampolas e eles levaram 8 que essas ampolas é para eles mesmos usarem quando entram em algum local do incêndio para conseguir retirar as pessoas, não é para os outros usarem é só para eles. E eles viram que não seriam suficientes essas ampolas, então conta que até quando o chefe do corpo de bombeiros chegou lá, ligou, pegou o rádio e disse que precisava de toda ajuda, o máximo de ajuda possível, então começou a chegar ajuda de outros lugares também devido à situação, mas é aquela coisa, o pessoal morreu muito rápido, então eles não estavam lá para resgatar vidas, eles estavam lá resgatando corpos.
E tem um caso que eu vi que era de um estudante que ela ia fazer faculdade, e não era uma faculdade que os pais dela aprovaram, mas aí ela foi para essa festa porque ela já ia entrar na faculdade e na série relata também que era o aniversário dela, então ela ganha um tênis do pai nesse dia e ela vai com ele pra festa, então acontece o incêndio, acontece tudo e ela está com três amigas, ela sai da boate, vai ao hospital para atendimento, mas acaba morrendo.
E no outro dia, no mesmo dia aliás, o pai dela vai atrás e ele vai em todos os hospitais, vai na boate, vai em tudo e não encontra ela, então ele vai no último hospital e fala com a mulher da recepção e ela diz que, tipo essa cena me dá uma angústia muito grande porque é a parte que ele cai em si, que a filha dele não está mais viva, a recepcionista pergunta para ele se ele já foi no ginásio, que era onde o corpo de bombeiros estava levando as vítimas. Então esse ginásio estava comportando, estava lotado de corpos e ele vai para lá em negação, ele não aceita que a filha dele tenha morrido, tenha falecido, e quando ele chega num ginásio, ele fica lá na fila, é muito angustiante minha gente, e quando ele entra finalmente no ginásio, ele vai para reconhecer os corpos, vai tentar reconhecer o corpo da filha dele e ele reconhece pelo tênis que ele deu para ela, isso é muito triste.
Isso é um spoiler, eu estou avisando agora, mas isso é um spoiler e tipo, isso é muito triste, você se comove realmente com a tristeza de todos os familiares, tem vários casos, eu não vou dar mais spoiler, só foi esse.
É porque a série, pelo que eu entendi o que você falou, retrata bem esse lado das vítimas.
Por isso da crítica, os familiares não gostaram dessa série porque eles foram pegos de surpresa e tipo, não foi autorizado por eles, entendeu?
Gente, eu jurava que tinha sido autorizado pelos familiares e tudo mais.
Por isso da crítica à série, porque os familiares foram pegos de surpresa e tipo, contava realmente o que aconteceu com cada um deles, cada personagem só mudava o nome assim, então ficou aquela coisa bem pesada.
Então pra fazer a série, eles pegaram documentários, entrevistas do pessoal.
Retrataram o dia que aconteceu essa fatalidade, por isso que está sendo tão criticada.
No lugar deles eu também não gostaria, não vou mentir.
É porque assim, apesar de já terem passado tantos anos, é algo que mexe muito com a pessoa como Carol disse e nem foi só o caso desse homem, porque o que acontecia é que quando o pessoal saía com vida e chegava no hospital são, ciente, eles davam o nome, aí imagina, já tinha se espalhado o boato do incêndio, aí eu sou familiar e eu, “Caramba, será que meu filho está vivo?” Aí quando chega na porta do hospital, ele está na lista de sobreviventes e quando eu vou atrás dele, ele tem morrido devido ao gás e tudo o que causou. E a galera não sabia até então que era isso, então por isso muita gente morreu, eles não sabiam como tratar esse gás, ele não estava reagindo aos tratamentos do tipo de incêndio que eles pensaram que era, como a gente falou há um tempinho atrás que esse era um incêndio que por exemplo, não podia jogar água. Então tem essa questão, só vieram descobrir depois, morreu muita gente, como já foi falado e teve também a questão dos profissionais, eu vi que o primeiro profissional que chegou lá, depois do corpo de bombeiros e tudo mais, foi um médico e ele disse que a primeira que ele viu, a primeira paciente, a primeira vítima, estava com os olhos brancos queimados do fogo também porque alguns chegaram a se queimar e da boca dela saiu uma fumaça preta, que era fumaça do gás de cianeto, então assim corpos e corpos. Tem declaração de sobreviventes que foi ajudar a tirar os corpos, e tinham que puxar essas pessoas pelo cabelo, pelo cinto, porque não conseguia pegar na pele, vocês viram o caso do rapaz que a pele caiu?
Vi, ele ficou com quase 90% do corpo queimado, não é isso?
Isso, que ele saiu da boate e estava em estado de choque minha gente, ele não sentia, ele estava com um amigo na boate, e estava procurando esse amigo e ele não tinha noção do que ele estava passando na hora, aí chegaram e disseram “sua pele, sua pele”, e ele disse “não é minha blusa”, ele pensou que era a blusa derretendo, não era a blusa, aí o cara diz, “você tá sem blusa”, aí quando ele olha, era toda a pele do braço dele que estava soltando, estava presa assim por essa região do punho tipo estava toda solta, aí depois ele ficou meio mal, queriam levar ele pro hospital, ele só pensando no amigo, mas conseguiram colocar ele na ambulância, no carro, não sei especificamente no que ele foi socorrido.
Nossa, é muito triste.
Esse caso dele tem até a parte que mostra o tratamento ao longo dos dias, os anos, tudo que ele sofreu e que ele teve que ficar pendurado praticamente pelos braços, não conseguiu encostar na cama, nem nada e ficava literalmente pendurado para ele não sentir mais dor do que ele já estava sentindo.
E como a gente daqui é de enfermagem, eu lembrei também o caso da enfermeira que trabalhou no caso, Liliane, ela chegou lá com os policiais, nesse ponto da história só os corpos lá dentro e todos os policiais com muita vontade de chorar, ela disse que não sabe nem de onde tirou forças, ela virou e disse assim, “Sejam fortes, não chorem, a gente precisa devolver essas crianças aos pais”
Cara, eu me arrepiei todinha quando eu vi isso, eu fiquei caramba.
E tipo o celular, você viu o negócio do celular que é muito sério isso, muitos celulares tocando, muitos, muitos, muitos. Aí teve um que ela olhou aí uma chamada que estava ligando constantemente era a mãe, tinha o nome mãe no contato e tinha lá 150 chamadas perdidas.
Eu vi isso também, tinha do pai o que deu o tênis a menina, e tinha 127 chamadas no celular e quando ele vai reconhecer o corpo, o celular tá junto e tipo, ele tá ligando pra ela na hora, então quando ele vai reconhecer o celular toca, isso é muito triste.
Aí, eu estou me arrepiando todinha.
O julgamento teve início no dia primeiro de outubro de 2021, durou 10 dias e terminou no dia 10 de outubro de 2021 e deixou muita gente revoltada, vocês viram a questão do julgamento das sentenças?
Eu vi aquele caso que tinha um cara, eu nem lembro direito quem era, ele estava desesperado, pedindo perdão à família, dizendo que a culpa não era dele, você sabe qual é?
Foi o cara da banda, um dos caras da banda, foi exatamente aí que houve aquele conflito, ele disse que não teve culpa, aí o vendedor de fogos disse “não mas eu avisei”, e ele dizendo que não sabia que tinha esse outro fogos que se soubesse tinha comprado esse fogos que podia usar no ambiente interno.
Não sei qual o certo da história, a gente não sabe.
Então gente, não sei se vocês viram, mas o julgamento aconteceu em 2021, teve início no dia primeiro de outubro e terminou no dia 10, teve quatro réus e destes quatro réus três pediram uma coisa chamada desaforamento, que eles não queriam ser julgados em Santa Maria, dizendo que teria a questão da comoção do pessoal, do emocional, não teria racionalidade no julgamento. Racionalidade de que gente? Porque houve um crime e mesmo que se comprove que foi não intencional, que aí tem muito que ser colocado em jogo por conta de tudo o que estava acontecendo, eles tinham ciência dos riscos, mas mesmo que não intencional, há de haver essa penalização e só o Luciano que disse, “O correto é sermos julgados aqui em Santa Maria”, mas acabou que foram julgados em Porto Alegre, desse julgamento aí que durou 10 dias e teve muita polêmica em volta e tal, o que vocês lembram assim, de ter ouvido sobre isso do julgamento.
Eu lembro que teve o caso de um dos integrantes da banda que ele foi condenado e tipo, chocou muito porque só ele foi condenado e as pessoas restantes não foram.
Porque foi ele que comprou?
Não, justamente porque são pessoas maiores, não tem aquele que o mais fraco vai pagar por tudo, pronto é bem isso.
Pode falar Vivi.
Não é porque um deles, assim que foram condenados cada um com uma pena (deixa até dar uma fila aqui) o Elisandro a 22 anos e 6 meses, o Mauro a 19 anos e 6 meses, o Marcelo 18 anos e o Luciano também 18 anos. Só que o que acontece é que um desses quatro, não me recordo qual, ele tinha um documento que tipo, já foi planejamento do advogado, tipo se der em prisão na hora a gente apresenta isso, então apresentou e ele teve direito de sair em liberdade do julgamento, então o juiz resolveu estender para os outros três também, então os quatro saíram em liberdade do julgamento, foram condenados, mas saíram em liberdade.
Pois é, e também tem a questão de que os outros corpos dessa tragédia, não foram condenados, corpos que eu digo são as outras partes que seria o corpo de bombeiros que cedeu o alvará, os vendedores de fogos que não poderiam estar vendendo para eles no caso, para cantores de uma banda, porque fazer isso, e o próprio dono da boate mesmo que eu acho que seria um dos principais culpados desta tragédia.
Atualmente só para atualizar vocês, o julgamento está em fase de interposição de recursos. Então eles estão lá recorrendo por essa pena, então está rolando isso daí e a gente não sabe como vai dar, como já foi dito aqui pelas meninas só tem um deles preso, um desses quatro, um “peixe pequeno”, digamos assim e os outros seguem em liberdade.
Trazendo agora, já que vocês souberam um breve resumão do que aconteceu nessa tragédia, a gente traz um pouco do assunto agora para a questão do campo da saúde, porque a gente consegue falar um pouco sobre o trauma psicológico que essas pessoas sofreram, os sobreviventes e até os profissionais de saúde que atenderam essas vítimas no dia. Então muitos até hoje, dez anos se passaram e eles ainda fazem terapia sobre o que aconteceu lá, sobre como essas pessoas chegaram para eles atenderem e isso choca porque a gente, como futuro profissional de saúde, sentimos isso como se fosse com a gente, e já é difícil o atendimento hospitalar sem todos esses fatores, sem essas tragédias, imagina com esse fator a mais?
E fora que algumas das vítimas, dos sobreviventes, após alguns anos que começaram a apresentar problemas de saúde, teve uma que inclusive apresentou câncer, descobriu um câncer depois de toda essa inalação de cianeto e faleceu também um tempo desses, então é algo que ficou marcado para o resto da história da cidade, para o resto da vida dessas pessoas, como Carol estava dizendo, teve a questão do acompanhamento psicológico que até hoje esses profissionais precisam, que os familiares precisam e assim gente, é uma coisa que vai marcar o resto da vida deles, não tem justiça que seja feita que mude isso, que apague isso. Inclusive o pai de um deles, quando acabou o julgamento disse assim, não tem o que ser comemorado, ele não está feliz porque foram sentenciados, foram julgados e condenados.
Isso porque simplesmente eles perderam o que mais amavam, os filhos deles, e isso aí não vai voltar.
Nossa gente, o que eu lembrei agora dessa questão dos sobreviventes, teve uma das sobreviventes, Jéssica, que ela foi dar um depoimento, e no depoimento ainda no julgamento ela pegou e falou assim, “Eu não tenho ódio deles, eu não sinto raiva deles” e o advogado da defesa usou isso como artimanha, pra dizer, “Ó tá vendo, ela que foi uma vítima sequelada não está tendo ódio”, mas cara, não é questão de ódio, é a questão do correto, do justo, do julgamento.
Isso é a questão de que houve uma tragédia, e alguém foi culpado disso, alguém tem que responder.
Nesse caso, várias pessoas pelo que a gente analisa, não teve um culpado ou dois, foram vários e a vida deles segue, mas a de quem morreu ou a de quem tá com esse trauma, tanto é que tipo nossa teve outro detalhe que eu também cheguei a ver, logo no início foi esse choque nos noticiários só que depois a justiça foi meio que deixando de mão, isso gente há anos e anos atrás, então os próprios pais disseram, não a gente não pode deixar isso passar e começaram a fazer “zuada”, digamos assim, na mídia e acreditam que eles foram processados pelo Ministério público, porque eles diziam, “não estão resolvendo, isso está errado, não sei o quê”. Aí disseram que eles estavam falando demais, que estavam acusando os promotores.
Fizeram isso para acuar eles na verdade, porque eles não iam descansar enquanto não houvesse justiça, então isso foi para meio que dá um susto.
Mas não teve jeito não, porque eles até disseram assim, “mas a gente tira as acusações se vocês forem a público se retratar”, aí os responsáveis, os pais, alguns desses pais das vítimas que estavam nesse meio disseram, “a gente vai pedir desculpas pelo que? A gente não está errado.” Não aceitaram, não pediram desculpas, não baixaram a cabeça.
É complicado essa situação teve um caso de uma senhora que perdeu o filho dela e ela fala que ele era o amor da vida dela, porque você sabe mãe como é, e nesses dias apareceu uma reportagem do fantástico na casa dela e o quarto do filho dela está exatamente do jeito que ele deixou, inclusive uma camiseta que ele deixa em cima de um sofazinho lá, ela não mexeu na camiseta, está exatamente no mesmo local, fazem 10 anos e também na reportagem apontou que ela está ainda com quadro depressivo porque é a questão do luto que a gente passa pelas cinco etapas e uma delas é a depressão que ela se encontra. Então até na reportagem retrata que ela passa pela negação, ela não conseguiu aceitar a morte do filho dela, porque o elo familiar com ele era muito forte.
E quando Carol falou agora eu lembrei que algumas mães se suicidaram, uma foi depois do acontecido, mexeu muito com o psicológico, imagina você ir no ginásio ver vários corpos e ter que identificar seu filho, não é uma coisa fácil, então houve caso também de suicídio após essa tragédia.
Isso, tem profissionais da saúde também que alegam que não conseguem entrar no ginásio, tem isso também, até os profissionais do corpo de bombeiros, eles não conseguem entrar no local devido à cena que chocou, porque imagina duzentas pessoas, 242 corpos em uma quadra para o reconhecimento dessas pessoas e foi um dia que durou uma eternidade segundo uma mãe que falou assim que “aquele dia parecia não acabar mais”.
É aquela coisa que é até o título “Todo Dia a Mesma Noite”.
Então gente, é isso a gente vai ficando por aqui, diferente de alguns outros episódios nossos, esse foi um episódio mais sério, um assunto que está sendo bem debatido, porque como Carol falou, fazem 10 anos esse ano e que sirva de lição, apesar de já fazer 10 anos, muita coisa aí continua errada, mas nós como futuros profissionais da saúde temos muito o que tirar desse caso.
É isso, que sirva de lição para os próximos e que a gente se atente também a essa questão de trauma psicológico e a gente consiga procurar ajuda, buscar a ajuda de um profissional da saúde, de um psicólogo, de um psiquiatra, e consiga seguir em frente mesmo com essas dificuldades que a gente passa no dia a dia, até uma questão dessa mesmo de tragédia que pode acontecer com qualquer um.
Pois é gente, é tão triste que eu não consigo nem falar muito sobre esse assunto. A gente está encerrando por aqui tchau, tchau.
Tchau galera, esse foi mais um podcast do contêiner saúde.
Até a próxima.
Episódio: Boate Kiss
Apresentação: Karol, Mayra e Vivianne
Coordenação: Luiz Miguel Picelli Sanches
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