Podcast – [Metaverso da Saúde] Atuação da Enfermagem no APH
Podcast - [Metaverso da Saúde] Atuação da Enfermagem no APH
No episódio de hoje, dando continuidade às profissões da enfermagem, Duda e Matheus conversaram com Daniel Filipe, aluno de enfermagem do CAV e também técnico de enfermagem da cidade de Cabo de Santo Agostinho – PE, sobre sua atuação e a atuação da enfermagem no atendimento pré hospitalar.

E aí galera, bem-vindos à mais um episódio do podcast metaverso da saúde, meu nome é Mateus e esse podcast é um podcast ligado ao contêiner saúde, um projeto vinculado ao Centro Acadêmico de Vitória, na Universidade Federal de Pernambuco, idealizado e coordenado pelo professor Luiz Miguel Picelli Sanches.
Estamos aqui com mais um podcast, daquela série que a gente tem, que é a enfermagem e as suas profissões. Eu vou estar com Duda e Daniel hoje.
Olá, amores, eu sou Duda e a gente trouxe Daniel, que é o nosso convidado, que é graduando de enfermagem aqui no Cav e ele trabalha no samu como técnico de enfermagem, vai fazer o atendimento ali pré hospitalar, que vai ser o nosso tema do episódio de hoje. Bem-vindo, Daniel.
Obrigado pelo convite, olá a todos, meu nome é Daniel Felipe, sou estudante de enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico de Vitória e atuo como técnico de enfermagem no samu na cidade do Cabo de Santo Agostinho, aqui em Pernambuco.
E aí, Daniel, a gente vamos começar aqui a conversar um pouquinho, então tu poderia falar para a gente basicamente, o que é esse APH? o que é esse atendimento pré hospitalar?
Bem, o APH, o Atendimento Pré Hospitalar, que é bem difundido na enfermagem, principalmente em forma de cursos, ele é basicamente um atendimento onde vai ser prestada toda uma assistência antes do paciente chegar ao hospital, então a gente pode ter o APH, esse atendimento, dentro da parte traumática, quando o indivíduo sofre algum tipo de trauma, um acidente de carro, um acidente de moto ou queda de altura por aí vai, pode também ser nas partes clínicas, como por exemplo, pico hipertensivo, cetoacidose diabética, assistência no parto e por aí vai.
Quando que tu diria que surgiu mais ou menos assim, se tu souber, o APH no Brasil?
Bem, no Brasil, o APH, ele surge ali por volta do final da década do século XIX, na cidade do Rio de Janeiro, com o intuito, basicamente, de não prestar uma assistência logo ao doente, as vítimas, mas apenas de pegar o doente e levar para o hospital. Só depois é que surge esse contexto de prestar assistência no local, assistência imediata para garantir uma sobrevida ao paciente e então levá-lo ao hospital. É aí quando a gente entra no âmbito do serviço de atendimento móvel de urgência, o Samu, que foi criado em 2003, mas só foi oficializado pelo Ministério da Saúde em 2004, com o decreto 5055. E quem tiver interesse de ler, é só procurar na internet. A gente vai encontrar a definição do que é o serviço móvel de urgência, quais são os contextos que ele atua, quais são os profissionais que compõem o samu e por aí vai.
Isso é muito importante, também como tu falou sobre essa questão. Esse APH, esse Atendimento Pré Hospitalar no Brasil, ele é dividido em SBV, que é o Suporte Básico de Vida e o Suporte Avançado à Vida, que é o SAV. Então, qual que é a diferença desses dois?
Certo, bem como a introdução da pergunta já fala, dentro do samu, a gente tem o suporte básico e o suporte avançado, que seria o SBV e o SAV. O SBV basicamente vai ser um suporte básico mesmo, onde você só vai garantir uma sobrevida, meios de sobrevivência, geralmente quem faz, quem compõem o suporte básico é um técnico de enfermagem e um condutor socorrista, aqui no nosso contexto pernambucano, mas a gente tem estados como por exemplo a Paraíba, onde o enfermeiro também faz parte do suporte básico, então, sai na básica o enfermeiro, o técnico de enfermagem e o condutor socorrista.
Já no SAV, o Suporte Avançado de Vida, a gente pode afirmar que é uma UTI; a UTI móvel também, como a gente pode chamar, então a gente tem a presença de um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem e o condutor socorrista, mas o curioso é que lá no decreto 5055, que institui o serviço de atendimento móvel de urgência dentro do Brasil, ele não prevê o técnico de enfermagem no Suporte Avançado de Vida mas aqui em Pernambuco, e em diversos outros lugares, a gente tem o técnico de enfermagem dentro do SAV e a gente pode citar que ele pode atuar em diversos contextos, como por exemplo, auxiliar ainda numa parada cardiorrespiratória para quem aí sabe que é uma pessoa controlando o tempo, uma pessoa administrando as medicações, as drogas ali utilizadas, uma pessoa fazendo as compressões, a reanimação e por aí vai. Então existe também a parte traumática, que muitas vezes pode ser um trauma bem extenso e aí uma quarta pessoa ajuda bastante.
Fazendo diferença bem grande, assim, quando a gente vai ver, até questão de tudo, transporte, como tu falou, desse gerenciamento de fato de delegar o que cada um vai fazer. Eu acho que quando tem essa quarta pessoa nessa equipe é bem diferente a qualidade da prestação do cuidado, do atendimento.
E é bem engraçado que, assim, não engraçado mas cada um cumpre com a sua função então a gente tem o condutor socorrista que está ali para conduzir a viatura, a ambulância e também prestar algum tipo de socorro. Os condutores socorristas, eles têm o curso de APH, é um dos requisitos e também a CNH da categoria, se eu não me engano, eu acho que é a categoria D.
Aí o técnico de enfermagem, faz a função de enfermagem nível auxiliar, seja administrar medicações e por aí vai, aferir sinais vitais, o enfermeiro entra com toda a parte que a gente já sabe e também fazer os procedimentos invasivos, que são bastante realizados no samu e o médico está ali para fazer as prescrições possíveis e tudo o que compete a ele, tudo que for ato médico.
É, e tu até falou, foi bom até tu ter falado, dessa questão, de cada um vai fazer sua função. E assim, nos estágios, quando eu estava estagiando, em urgência e emergência, conversava com os condutores e muitos condutores, inclusive eles, estão fazendo o curso de técnico de enfermagem, justamente para melhorar até essa qualidade da assistência prestada, mesmo eles tendo o curso como tu falou e tal, mas eles ainda procuram ter esse plus, sabe? Eles estão procurando realmente se especializar ainda mais para melhorar essa qualidade do serviço prestado.
Eles podem até fazer justamente para poder entender o contexto que está acontecendo com o paciente, porque às vezes eles não têm noção do que é um paciente crítico, se o paciente está grave, a gravidade do paciente e aí eles podem fazer esse curso para isso, para ter um melhor contexto, ter um conhecimento, ter uma noção do que está acontecendo ali naquele momento, mas ele não pode se ele estiver contratado como condutor naquele serviço, ele não pode exercer funções de técnico de enfermagem.
E como tu já começou a falar aí das funções, tu falou das funções de cada membro assim por cima. O enfermeiro além do que tu já falou, ele também tem alguma posição de líder? de delegar as funções ou não? no caso que ele está presente na equipe, porque tem equipe que ele não está.
Sim, isso. Assim, a gente tem essas divisões de Suporte Básico de Vida, Suporte Avançado de Vida, mas a gente tem que entender o samu como uma unidade. É uma coisa só. A diferença é que numa USA, numa UTI móvel, vai sair no caso aqui em Pernambuco, condutor, técnico, médico e enfermeiro e na básica um técnico e o condutor socorrista.
Mas a gente tem tudo no mesmo local de trabalho, então o enfermeiro dentro de um samu ele tem atribuições tanto gerenciais quanto assistencial. Assistencial quando ele sai, tem uma saída de USA, por exemplo e ali ele vai prestar assistência de enfermagem avançada e gerencial ele vai gerenciar o plantão, como por exemplo, no começo do plantão, fazer o levantamento do pessoal que está lá na escala, escalado do dia, ver quem já chegou, quem não chegou. Depois, a gente tem o checklist, que é muito interessante e importante fazer esse checklist dos materiais da ambulância, e aí, nesse caso, na básica, quem faz é o técnico e na UTI quem faz é o enfermeiro.
E caso esteja faltando algum material, o enfermeiro vai lá e providencia, também testa os equipamentos, como ventilador mecânico, testa também o DEA e entre outros equipamentos que a USA pode ter. Também vai conferir as medicações das bolsas de medicação, vai conferir os laringoscópios, se está tudo funcionando, tudo isso.
Também, se por exemplo, alguma viatura de defeito tem algum problema mecânico, é o enfermeiro que avisa a central de regulação que é para dar um, que a gente chama de qrx, mas seria como se fosse uma pausa, dar baixa nessa viatura, desativar a viatura. E também gerir o plantão de certa forma, então o enfermeiro ele carrega literalmente nas costas, o plantão todo. Diferentemente das grandes cidades, como Recife, Jaboatão, geralmente as UTIs das cidades de interior, elas saem menos, então meio que dá um descanso, um plus aos enfermeiros, na assistência.
Rapaz e veja como você já falou assim, deu para entender e é um negócio que eu vou sempre bater nessa tecla. Eu vou sempre bater nessa tecla que realmente a enfermagem é vital para qualquer que seja o serviço de saúde, mas pronto. O samu, o serviço móvel, serviço de atendimento móvel de urgência ele pode, acontecer sem a presença de um profissional de enfermagem nessa equipe gerindo isso aí, tudo?
Certo, não vou dizer que não possa até pode, porque tem o profissional médico e o condutor socorrista, o médico pode sair e ele vai ter que fazer tudinho sozinho e aí a gente já vê que na questão de logística isso não funciona de fato. Então o serviço pode até funcionar sem técnico de enfermagem, já que o enfermeiro, faz todas as atribuições do técnico e as dele. Tem as atribuições que são em comum e as atribuições privativas do enfermeiro. Eu diria que o profissional enfermeiro sem ele, o samu não funciona, mas sem o técnico funciona com certeza. Já que a gente tem esse ponto, que o enfermeiro ele pode fazer tudo o que o técnico faz, e também não funcionaria sem o condutor socorrista, porque quem é que vai dirigir a viatura?.
Tem seu treinamento aí, específico, tem que ver segurança da cena, enfim.
Já vi samu também sem médico. Funciona, mas aí a gente já não tem o Suporte Avançado de Vida. A gente teria um suposto suporte intermediário, que seria um paciente, não tão crítico para precisar de um suporte avançado mas também um não tão básico que só o técnico conseguiria resolver. Então a gente tem aí e já vi diversas vezes em diversos samus que, ocasionalmente, naquele plantão, podem acontecer de ficar sem médico. Sei lá, estava de atestado não conseguiu chegar no plantão e funcionou sem médico e funciona. Mas sem o enfermeiro, eu diria que não.
Inclusive, tem até essa discussão dessa implementação, realmente, desse intermediário, não é?
Sim. Atualmente a gente tem um Deputado Estadual Gilmar Júnior, que é presidente do Coren Pernambuco.
Alô, Gilmar, queremos você aqui, viu?
Queremos você aqui.
Eu concordo. Ele está propondo um projeto de lei que me falhe agora a memória, o número. Mas para implementar o Suporte Intermediário de Vida no contexto do samu pernambucano, nas cidades de Pernambuco, o impacto que talvez teria aí seria que ter que aumentar o número de enfermeiros que, por exemplo, se só tem uma UTI, eu só tenho um enfermeiro no plantão, e aí, a partir do momento que eu começo, que eu coloco o Suporte Intermediário, eu tenho que botar mais outro enfermeiro, então talvez isso traga um custo a mais para a cidade. Talvez não, vai trazer um custo a mais para as cidades e aí tem que ver quais são as cidades que têm porte para isso. Muito provavelmente o samu Recife vai implementar se caso seja aprovado, mas a gente fica no aguardo pra ver no que que vai dar.
É, e assim, falando assim realidade de cidade de interior muito se esbarra nessa questão financeira, então eu acho que assim, não sei suposições. Mas eu acho que algumas cidades do interior, algumas realmente vão mensurar e vão dizer, não dá para a gente botar e outras não. Até porque a gente percebe, quando a gente vai para o Samu, que, por exemplo, algumas cidades menores não têm, a USA e quando precisam da USA, eles têm que solicitar de uma cidade maior que tenha e por exemplo, aqui em Vitória, se eu não me engano, Vitória atende nove cidades. Uma coisa assim, é tipo, são muitas cidades, a USA de Vitória é para várias cidades e às vezes a USA fica “presa” entre aspas e como é que vai fazer para atender essas nove cidades?
Então eu acho que os mais interessados nisso são as cidades pequenas, só que eles esbarram nessa barreira financeira que às vezes não querem arcar com a contratação de mais enfermeiros.
Que na verdade não seria um enfermeiro, não é? Seria, sei lá, numa escala 12 por 60, você teria que ter seis enfermeiros, no mínimo, então isso é custo, talvez, eu acredito. Eu não parei para ler o projeto de lei, mas eu acredito que vá ter alguma fonte de financiamento para isso ou vai ficar mais focado nas grandes cidades, na região metropolitana aqui de Pernambuco e a gente espera para ver esse cenário.
Com o negócio que tu falou até agora de focar mais na atuação do enfermeiro na equipe e também relembrando o que tu já falou do que o médico faz. O que tu poderia dizer que o enfermeiro faz que é invasivo, que o médico não faz, ou que um faz e o outro não faz, nessa lógica?
Certo, eu entendi a pergunta. Uma coisa, é fato, dentro da urgência e emergência, o enfermeiro tem muita autonomia, e também tem um leque de funções, que sejam privativas a ele dentro da equipe de enfermagem significa que o técnico não pode fazer e existem as atividades comuns que tanto o médico quanto o enfermeiro pode fazer, que geralmente acompanha ali. Então a gente já sabe que é ato médico fazer acesso venoso central, intubação e por aí vai, mas o enfermeiro, a gente tem diversos procedimentos que ele pode fazer invasivo e aí a gente tem a passagem de máscara laríngea. Tem até uma normativa do Cofen também, que assegura que a gente pode estar fazendo a utilização desse dispositivo supra glótico. A gente tem também a punção intra óssea, também pode ser realizado pelo enfermeiro, tanto pelo médico quanto pelo enfermeiro. A máscara laríngea também o enfermeiro e o médico podem está passando.
A gente tem também os procedimentos invasivos em geral, como sondagem nasogástrica, a sondagem vesical de demora, que é privativo do enfermeiro dentro da equipe de enfermagem. Então é uma gama de procedimentos, fora também a SAE que é privativo do enfermeiro, o médico não faz SAE, apenas o enfermeiro que faz a SAE. Fora a SAE que os enfermeiros fazem na sua assistência, no samu.
Pronto e veja, a gente aqui ao vivo, a gente vai buscar informação. Fui buscar o projeto de lei de Gilmar, é o projeto de lei número 350 de 2023 e aqui fala bem, ó. “Atualmente, o SIV já é uma opção gestora em muitos serviços do país, nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Sul”, dentre outros. Ele cita esses daqui e realmente ele está tentando com esse projeto de lei implementar em Pernambuco, então é muito importante realmente isso para o APH pernambucano, esse projeto de lei de Gilmar.
Então, você como “samuzeiro” Daniel, como é a sua experiência como técnico de enfermagem dentro do samu?
Rapaz, eu só tenho dois anos de samu e mesmo se tivesse vários, eu não poderia dizer que sei de tudo, até porque, no contexto das urgências e emergências especificamente, o APH a gente tem atualização diariamente de protocolos, então muitas vezes uma verdade que hoje é dita como sim, que você deve fazer aquilo, amanhã ela já não é mais, existem outras. Então é muito gratificante, primeiro porque desde quando eu comecei a estudar enfermagem eu sempre tive vontade, sempre tive essa quedinha pelos contextos de emergência, aquela adrenalina, aquela coisa toda mas foi quando eu terminei meu curso técnico de enfermagem e eu prestei um concurso, o concurso do cabo, passei, fui lotado no samu. Eu também fiz outro para Recife, mas tinha uma vaga específica, tinha vaga específica para o samu, mas aí eu teria que ter SBV, que é um curso de Suporte Básico de Vida, um BLS por aí vai e na época eu não tinha, porque foi na época da pandemia e não tinha como eu fazer.
E aí, graças a Deus, acabei sendo lotado no samu Cabo e comecei, na época eu não sabia de muita coisa, eu só sabia o que eu tinha estudado.
E aí, eu acho que mais ou menos uns três meses eu fiquei sem ir para assistência direta. Só, toda vez que era o meu plantão, ia para o NEP. Todo samu tem um NEP, que é o Núcleo de Educação Permanente, estudar. Ver os protocolos de retirada de carro, retirada de capacete, vê também a questão de colar cervical e por aí vai. Toda essa coisa que a gente estuda quando paga urgência e emergência, aqui no CAV.
E aí, só depois é que eu realmente comecei a assumir a viatura, que a gente chama assim, assumir a viatura. Ser o titular da viatura. E aí foi quando eu comecei a ver de tudo. Tudo e mais um pouco.
Infelizmente, a gente dentro do samu, muita gente solicita sem necessidade, mas também existem casos de emergência, então fazendo o link com o que eu aprendi lá com o que eu vejo, até agora lá e a minha formação de enfermeiro tem sido muito agregador, não sei nem se existe essa palavra, mas agrega muito na minha experiência, então eu vejo que ali só foi para eu me reafirmar que eu quero ser um enfermeiro que atua no Samu, mas sempre com a mentalidade de que eu não sei de nada, que a gente sempre tem que estar buscando o conhecimento, tanto é que se você começar aí pelos samus da vida, sempre tem curso, sempre tem atualização, porque na maioria das vezes o Samu é técnica, você tem técnica de passar o colar cervical, tem técnica de retirada de carro e isso para a parte de trauma, fora a parte clínica e aí eu digo que quem é samu tem que gostar de tudo, porque você não só vai ver acidente de carro, você vai ver intoxicações exógenas, você vai ver parto, você vai ver reanimação neonatal, você vai ver idosos que caíram da própria altura, tentativa de suicídio, você vê saúde mental também dentro do samu, então eu digo que é uma área específica, mas que ao mesmo tempo que abrange todas as outras áreas de assistencialismo dentro da enfermagem.
É, e assim, a gente como enfermeiro, quando a gente sai formado, a gente sai generalista, então, eu acho que você ter uma boa formação, bem como a gente tem aqui no CAV. É assim, na minha opinião. Mas a gente tendo uma boa formação, a gente vai prestar uma assistência boa sendo emergencista,indo para a prática como tu falou, assim, tendo essa técnica muito bem amarradinha.
Mas a gente está falando assim, eu já paguei urgência e emergência, gosto bastante da área. Eu acho que seguiria sim essa área, porque é uma área que eu aprendi a gostar muito e desde os primeiros períodos, também assim que eu fui para o estágio do Samu, realmente também me apaixonei pela área e gosto muito.
Mas e tu Duda, tu estás em qual período?
Estou no quarto, eu sou um bebê.
Mas e aí, tu seguiria essa área do APH?
Eu sou muito caótica de trabalhar normalmente, mas eu acho que sob pressão eu penso muito melhor. Eu fico muito mais calma e eu consigo raciocinar. É muito estranho, mas eu raciocino melhor quando eu estou sob pressão, então acho que seria uma possibilidade.
É porque assim, de fato é como tu falou, Daniel. Aquela questão daquela adrenalina que a gente tem, quando toca a sirene, “bicho” eu me arrepio todinho, é um negócio que dar.
A gente tá na base, tocou lá, todo mundo já bota a roupa, vai e assim a gente pensa que é aquela coisa muito: bora, corre e tal. Não. Vamos fazendo rápido, claro, a gente não pode fazer com o freio de mão puxado, mas a gente faz ligeiro. E quando sai da base, “bicho”, quando liga aquela sirene que começa, meu irmão. Sobe ali, aquela adrenalina na gente e a gente vai pensando, porque passa, pela regulamentação e tal, e a gente já sabe, a gente tem mais ou menos uma noção de como é aquele ambiente que a gente vai estar chegando ali. Às vezes a gente chega, não tem nada a ver.
Eu acho que tu até Já passou bem mais do que eu, mais uma vez a gente teve um chamado que era tipo era uma queda da ponte. Aí foi a USA. Quando a gente chegou lá, foi uma queda da própria altura perto da ponte, a ponte, era o local, que era próximo, era o ponto de referência, só que passaram totalmente errado a informação.
É, às vezes acontece. Acontece muito porque às vezes a pessoa que está solicitando está nervosa, não consegue se expressar direito e aí acontece essa confusão. Teve uma vez logo quando eu entrei, e aí a minha adaptação nesse caso foi na UTI, porque ali teria o enfermeiro, me avaliando e pra me ajudar mostrando a parte da assistência de enfermagem.
E aí a USA foi disparada para uma ocorrência de uma queda de carroça e o cavalo tinha passado por cima do paciente. Era alguma coisinha assim. Quando chegou lá, não tinha carroça, não tinha cavalo, era um paciente, uma vítima no caso, que estava alcoolizado e caiu e bateu a cabeça e pelo que os terceiros diziam que flagraram foi uma crise convulsiva. E aí quando a gente chegou perto dele para ver se ele estava reativo, se estava responsivo, ele abriu o olho e começou a gritar e xingar a equipe e disse que não queria nada.
Então, assim, às vezes podem acontecer umas coisas meio aleatórias, sabe? Que passam para a gente uma coisa, chega no cenário é totalmente diferente ou às vezes passa para você. Você pensa que o paciente não está tão grave, chega lá é um paciente gravíssimo.
Acontece direto isso comigo. Teve uma vez que eu estava assumindo o plantão às 7 horas da manhã. Já para começar esse presente. Passaram uma ocorrência, que era uma paciente que estava dispneica e aí na época era o auge também da pandemia, regularão como covid, porque até que então se provasse ao contrário, era covid. Quando a gente chega, era um morro, a paciente morava no morro, aí tinha uma escadaria para subir, além disso, era um primeiro andar. Quando a gente entra, uma paciente bastante obesa, eu acho que ela tinha por volta dos 150 kg. Ela estava gaspeando já, saturando 60%.
Explique, não que eu não saiba, mas o que é gaspeando?
O gaspeando seria no modo popular, já seria os últimos suspiros, como se o paciente já tivesse morrendo, então ali a gente já sabe que o paciente está muito grave.
E aí eu liguei para o médico regulador e falei com ele. O médico regulador é o que fica na central de regulação. E aí eu passei o caso; o que eu faço? você poderia disparar a USA para vim ajudar?
Ele disse: “olhe, você está muito longe de uma unidade de saúde?”.
Eu disse: é uns quatros minutos de carro. No caso da via com a ambulância.
Aí ele fez, “o que você pode fazer? Você pode botar uma fonte de O2, uma máscara não reinalante e removê-la o mais rápido possível. Que daqui que a USA, venha chegar de acordo com o quadro da paciente, talvez já chegue aí e ela esteja em parada, que vai ser muito pior”.
E aí ele colocou na minha mão, ele disse: “o que é que você acha? Você está aí olhando para ela, você acha o que?”. Eu disse, eu vou colocar uma fonte de O2, que é o máximo que eu posso fazer, e socorri ela para a UPA.
Já teve outra vez também uma tentativa de suicídio fora do convencional, que geralmente o pessoal quando realiza essas tentativas são com medicamentos, benzodiazepínicos, diazepam, medicamentos para dormir em geral, antidepressivos. Essa foi com metformina, que é um antidiabético e captopril. Então, bem diferente do que a gente está acostumado a ver, mas assim, ela estava grave porque ela teve uma hipoglicemia, a PA dela estava lá embaixo também, estava em hipotensão bem severa, bastante pálida, e nesse dia não tinha USA no nosso município, estava desativada. Eu liguei para o médico, falei a mesma coisa, ele: “olha, a gente pode disparar a Usa de Jaboatão. Você está onde?”
Eu acho que estava em ponto de Carvalhos e a base de Jaboatão fica ali em piedade perto do hospital da aeronáutica. Aí ele fez assim “eu posso disparar, mas pode ser que demore umas meia hora, 40 minutos ou você pode levar para a unidade mais próxima o mais rápido possível”.
E aí eu decidi fazer isso porque vai que a USA de Jaboatão tivesse em outra ocorrência, como é que ficaria a vida do paciente? Mas é só a avaliação clínica, se eu visse que a paciente estava muito grave, instável, não levaria de jeito maneira, ia esperar por uma USA, mais ela estava com hipotensão, eu vi que dava para levar ela o mais rápido possível. A gente foi.
Com esses casos, não é? Adoráveis e nem um pouco caóticos, qual é a dica aí que tu daria para a galera que está na graduação e tem interesse na área? O que é que eles focam? O que é que eles fazem? Como é que eles vão para essa área mesmo e se desenvolvem bem nela?
Primeiro de tudo, estudar. Eu acho que não tem muito o que fazer. A gente pode se resumir só a estudar, para quem está nos períodos iniciais aí do curso, você vai ter contato com outras áreas, vai ter contato com a pediatria, com obstetrícia, psiquiatria, e pode ser que você se encontre, mas nada impede também que você atue numa emergência. E aí, tem também aqueles que são convictos feito eu, sempre amei a urgência e emergência, e aí eu me mantive quando cheguei na disciplina, só desenvolvi mais ainda e só me reafirmei.
E aí, você tem que estudar, também procurar cursos, cursos que sejam realizados por profissionais de saúde de preferência, porque o que acontece é que tem muito curso de APH barato até, tipo oitenta reais, cem reais, que são ministrados por bombeiros civis.
Então não é muito interessante para a gente, sabe, porque o APH da gente é o APH mesmo e a gente ainda tem que prestar assistência da nossa área. Um bombeiro civil não pode lhe dizer como você vai passar uma sonda vesical de demora. Em qual contexto das urgências você vai passar uma sonda nasogástrica, por exemplo, então, sempre está procurando cursos assim, de qualidade. Com uma carga horária boa também de prática e que sejam ministrados por profissionais de saúde e está sempre estudando, vendo o que é que está saindo de novo aí nas atualizações, procurando concursos da área. A gente tem, como, por exemplo, a prefeitura do Recife, que abre concurso específico para enfermeiro do samu, com um salário muito bom, inclusive.
Eu acredito que seja isso mesmo e nunca desistir, que é o que me trouxe até aqui. Eu Acredito que se eu tivesse desistido, eu lembro que no dia que eu fui fazer a prova desse concurso eu não ia entrar, eu não ia fazer porque eu não tinha estudado muita coisa.
Meu amigo pegou fez assim: “você vai entrar, eu só saio daqui quando você sair dessa prova”.
Aí eu fui obrigado a fazer e aí foi uma prova que eu me dei bem. Eu acho que eu errei poucas questões, mesmo não tendo muito conhecimento, mas aí utilizei todos os conhecimentos que eu já tinha, saí resgatando a memória, fui utilizando aquelas técnicas de exclusão de alternativa e estou aqui hoje, graças a Deus que eu não desisti. Então acredito que essa seja a mensagem de tudo, estudar, persistir e nunca desistir.
E ter um amigo que lhe obriga a fazer a prova.
Eu me arrepiei duas vezes ele falando isso aí.
Muito obrigado, Daniel, por participar. E tem alguma coisa que você queira falar? Você já deixou uma mensagem final que eu imagino que seja muito forte, mas se quiser adicionar mais alguma coisa fica aberto aí.
Não acredito que seja isso mesmo.
Agradecemos, você ter aceitado o convite. A gente estava conversando na UTI. A gente estava rodando o estágio juntos. Aí eu disse, Daniel vamos fazer isso? Vamos simbora e acho muito interessante. A gente também vai trazer Augusto Barreto para falar sobre essa questão também da emergência e tal. Então eu acho que a gente trazendo uma pessoa, trazendo um “samuzeiro”, trazendo uma pessoa que está ali trabalhando no serviço, eu acho muito importante porque aqui em Pernambuco mesmo, a gente tem muita gente que é de referência nacional. O Bruno Luna, a Luiza Pimentel que é outra diva. Assim, sou suspeita a falar e Bruno Luna foi aluno aqui do CAV.
São pessoas assim, extraordinárias. O próprio Augusto, também é referência. Muita gente do APH e enfermeiros, pessoas da enfermagem, então acho muito importante a gente ter esse espaço para a gente estar falando sobre isso e novamente agradecer, muito obrigado.
Obrigado também quem ficou até aqui escutando.
E é isso aí, pessoal.
Se você tiver alguma dúvida desse episódio ou quiser perguntar algo para o nosso querido Augusto para o próximo episódio, aí você arrasta para cima. Se você tiver no Spotify, vai ter uma caixinha e você deixa lá a sua pergunta.
Isso, não deixem também de escutar os outros episódios e os próximos também que virão, todas as sextas-feiras estamos sempre trazendo coisas novas aqui, tem mais coisa por vir, então é isso aí, sigam a gente lá também no Instagram, @conteinersaude e valeu. Forte abraço.
Tchau, tchau, gente.
Episódio: Atuação da Enfermagem no APH
Convidado: Daniel Filipe
Apresentação: Maria Eduarda e Matheus Sales
Roteiro: Gabrielly Laís
Gravação: Maria Eduarda
Edição: Matheus Sales
Coordenação: Luiz Miguel Picelli Sanches
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